Política – 24/02/2013 – 10:02
Candidato derrotado a presidente da República em 2010, José Serra recolheu-se ao reduto paulistano do prestígio político que ainda lhe resta e deixou espaço suficiente no PSDB para que o senador mineiro Aécio Neves seguisse adiante com o objetivo de se tornar o candidato conservador à sucessão da petista Dilma Rousseff. Em conversa com assessores, às quais o Correio do Brasil teve acesso, Neves deixou a agenda livre para, no segundo semestre, iniciar um giro pelo país que terminará, segundo afirmou “em outubro de 2014″. Apesar da largada prematura na corrida ao Planalto, foi o próprio Aécio Neves que criticou o adiantamento do período eleitoral no país e lembrou que os custos dessa atitude são altos.
Com o partido fracionado e uma aliança trincada com o DEM e o PPS, Neves larga em situação inferior à principal adversária e atual presidenta, Dilma Rousseff. Fiel escudeiro da candidatura dela à reeleição, no ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece como o principal obstáculo no caminho do tucano mineiro. A partir de junho, Lula inicia sua caravana por todos os Estados brasileiros para elaborar o programa eleitoral do PT, não sem antes visitar, já a partir da próxima quinta-feira até maio deste ano, as maiores cidades do país nos seminários de 10 anos do PT no governo federal.
Se Lula conta com a militância da base aliada e o apoio da blogosfera e de alguns diários independentes no país, o adversário tucano também mostra suas armas. Aécio Neves dispõe de recursos financeiros, providos por instituições de ultra direita, como o Instituto Millennium, para garantir o apoio da mídia conservadora em torno de seus próximos atos políticos. Ele pretende, antes de colocar o pé na estrada, realizar uma badalada apresentação de sua candidatura nos veículos de “comunicação de massa”, como afirmou, referindo-se aos canais de TV, revistas e jornais que, tradicionalmente, apoiam as forças reacionárias do país.
Além do apoio maciço dos meios de comunicação conservadores, Neves pretende aproveitar a propaganda do PSDB na TV, que começará a ser exibida em maio próximo, para consolidar sua possível candidatura. Ele terá direito a uma série de inserções, em todos os canais de rádio e televisão, entre os dias 25 e 29 de maio, terminando em 1º de junho, quando já terá assumido a Presidência Nacional do PSDB e a condição de adversário da presidenta Dilma, nas urnas.
Se Dilma conta com Lula para incensar sua candidatura. Neves terá o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à tiracolo. Na próxima segunda-feira, estarão juntos em Belo Horizonte, durante a abertura de um seminário político. O objetivo dos eventos é garantir a cobertura da mídia para os discursos que realizará, todos voltados à convenção nacional do partido, marcada para a semana dos dias 18 a 25 de maio, quando espera derrotar, de vez, o líder tucano paulista que, há mais de três meses, não fala sobre política.
Segundo um dos assessores ouvidos pelo Correio do Brasil, Neves já trabalha com a possibilidade da defecção de Serra para o PSB, caso a candidatura do ex-governador mineiro ganhe dimensão suficiente para evitar as prévias sugeridas pelo governador tucano paulista, Geraldo Alckmin.
– Trabalhamos com a hipótese de que as prévias não serão necessárias, tamanho será o apelo popular da candidatura de Aécio no PSDB e nos demais partidos de oposição. Nesse caso, presumimos que a falta de espaço possa levar José Serra a optar por uma nova agremiação, como o PSD de Gilberto Kassab, que notadamente se aproxima de seu ideário político e pessoal – disse.
Mas Neves, se vencer a disputa interna em seu partido, ainda precisará de apoio na esfera jurídica para superar os processos que pesam sobre ele, após o término de seus oito anos de governo no Estado de Minas Gerais.
Na raia
Correndo por fora e ainda presente na base aliada da presidenta Dilma, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), se fez presente ao debate, nesta sexta-feira, ao criticar o que classifica de “velhas rinhas” da política nacional, como vê a disputa entre PSDB e PT.
– O país não precisa dessa velha rinha, não precisa discutir o passado, discutir coisas que não dialogam com a pauta do povo – disse o governador.
Campos foi um ilustre ausente no evento promovido para celebrar os 10 anos do PT no governo, quando Lula consolidou a candidatura à reeleição da presidenta Dilma.
Enquanto, em Brasília, Neves listava os 13 “fracassos” de governos petistas e disparava junto com o PT na corrida eleitoral, Campos falava aos jornalistas no seminário Juntos por Pernambuco, após anunciar um pacote de R$ 612 milhões para as prefeituras. Ele foi recebido no local do evento aos gritos de “presidente”.
– O Brasil não cresceu no ano passado como se esperava, a gente tem que ajudar a presidenta Dilma, ajudar a levar o país ao seu reencontro com o crescimento, que gera felicidade, oportunidade. Não é preciso eleitoralizar tanto a política brasileira assim. Sinceramente, não vejo como ajudar o Brasil, começando uma campanha eleitoral agora – reclamou.
Fonte: Correio do Brasil