Saúde – 23/11/2012 – 09:11
Cerca de 70 paulistanos passaram até o início da tarde desta quinta-feira (22) pela Galeria Prestes Maia, na Praça do Patriarca, Centro de São Paulo, para fazer um teste rápido de HIV, sífilis e hepatites B e C. A ação da Secretaria de Estado da Saúde integra a quinta edição da campanha nacional “Fique Sabendo”, que será realizada até o dia 1º em todos os estados. Confira no mapa ou na lista onde o serviço é oferecido.
A auxiliar de limpeza Érica Amorim, de 26 anos, já tinha feito, há um ano, um exame de sangue tradicional para detectar essas doenças infecto-contagiosas, mas esta foi a primeira vez que ela iria passar por um teste rápido, que retira apenas uma gota de sangue, com uma picada no dedo, e fica pronto em cerca de 40 minutos.
“Uma amiga minha se cortou com um vidro de perfume, soube por outra pessoa que ela tem HIV, mas mesmo assim ajudei a socorrê-la. Eu não tinha nenhum corte no corpo, então acho que não teve problema”, disse. Para tirar a dúvida se o contato levou a uma infecção, Érica compareceu ao local de atendimento.
Campanha ‘Fique Sabendo’ distribuiu géis lubrificantes e colocou biombos para conversas privativas sobre os resultados dos exames e aconselhamento às pessoas que fizeram os testes (Foto: Luna D’Alama/G1)
Outro interessado em fazer o teste era o prestador de serviços de contabilidade Marcos Rodrigues, de 35 anos, que estava a trabalho na Prefeitura e resolveu dar uma passada ali na galeria.
“Há dois anos, fiz o exame completo, mas decidi fazer de novo, não custa nada. Tenho uma namorada fixa há um ano, estou tranquilo”, afirmou.
Por volta das 13h30, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também foi até o local para fazer o teste rápido e incentivar a população.
Segundo a psicóloga Patrícia Marques, que presta aconselhamento aos pacientes após o resultado – seja positivo ou negativo –, a maioria das pessoas pergunta sobre formas de transmissão das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e o quanto a camisinha é realmente confiável para evitá-las. Essa conversa é feita de forma privativa, atrás de um biombo, onde só ficam o paciente e o profissional da saúde que entrega o diagnóstico.
“Os jovens usam mais preservativos que os mais velhos. Também existe a questão do relacionamento estável, em que os casais se sentem protegidos e abandonam a camisinha. Nosso objetivo aqui é atrair quem nunca fez um teste de HIV”, destacou Patrícia.
Fila de espera para o teste rápido de HIV, sífilis e
hepatites no Centro de SP (Foto: Luna D’Alama/G1)
Além da distribuição de 40 mil camisinhas na Galeria Prestes Maia, o Centro de Referência e Treinamento DST/Aids do estado ofereceu nesta tarde 16 mil pacotinhos com gel lubrificante e panfletos com explicações sobre HIV, sífilis e hepatites.
“O lubrificante é indicado para o sexo anal, pois ajuda a prevenir microlesões, feridas e sangramentos que poderiam expor ainda mais a pessoa ao vírus da Aids”, disse Patrícia.
Mais homens
Cerca de 70% dos indivíduos que foram à Galeria Prestes Maia na tarde desta quinta para fazer o teste rápido de HIV eram homens, de acordo com a coordenadora da campanha em São Paulo, Karina Wolffenbruttel.
“Dos 526 municípios paulistas que estão participando, a maioria está fazendo exames de sangue convencionais. Até o dia 1º, nossa meta é atingir 20 mil testes – 25% deles, rápidos”, disse. Os reagentes usados para o diagnóstico são produzidos pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz, e por fabricantes do Espírito Santo.
Cartazes da campanha explicando o que fazer em caso de resultado positivo ou não (Foto: Luna D’Alama/G1)
Segundo Karina, os exames tradicionais levam mais tempo para ficar prontos, mas acabam atendendo um número maior de pessoas por dia. O grande problema é que muitas não voltam para pegar o resultado.
A coordenadora da campanha ressalta que, neste sábado (24), o Programa Estadual de DST/Aids vai ficar aberto das 9h às 16h, na Rua Santa Cruz, 81, perto do metrô Santa Cruz, na Zona Sul da capital.
Ministro fala em debate com jornalistas sobre Aids
em SP nesta quinta-feira (Foto: Luna D’Alama/G1)
A meta é incentivar também os grupos considerados vulneráveis, que incluem usuários de drogas, homossexuais, travestis e profissionais do sexo.
Aumento da Aids entre jovens
No evento “Aids: missões para o futuro”, realizado pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas na manhã desta quinta-feira, em São Paulo, o ministro Alexandre Padilha falou sobre os desafios no combate ao HIV no país, que inclui lidar com pacientes que vivem mais tempo, graças ao uso de medicamentos antirretrovirais, e os efeitos colaterais decorrentes disso.
“São novas situações que aparecem quando os pacientes vivem por mais tempo, como problemas cardiovasculares, envelhecimento precoce e questões de saúde mental”, disse.
Segundo o ministro, o Brasil passou de um diagnóstico precoce de 32% da população com HIV em 2006 para 37% no ano passado. Nesse mesmo período, o número de mulheres grávidas que fazem o teste de Aids durante o pré-natal subiu de 63% para 84%.
Além disso, 29% dos pacientes com HIV começam o tratamento tardiamente no país, índice à frente dos EUA, onde a taxa gira em torno de 33%. Entre os novos casos, metade é de homens jovens (de 15 a 24 anos) e homossexuais.
Precisamos despertar uma atitude nessa geração que está informada, mas não se previne”
Alexandre Padilha,
ministro da Saúde
“Existe uma geração mais jovem no Brasil que não teve ídolos, artistas, parentes ou amigos que morreram de Aids. Mais de 80% desses jovens sabem que usar camisinha é a única forma de evitar DSTs. Mas menos da metade usa”, ressaltou o ministro. Por isso, o governo quer concentrar esforços em festas, baladas, estúdios de tatuagem e salões de manicure.
“Precisamos despertar uma atitude nessa geração que está informada, mas não se previne”, afirmou Padilha.
Aids no mundo
Atualmente, 34,2 milhões de pessoas vivem com HIV/Aids em todo o mundo – metade delas sem saber –, e 23,5 milhões estão concentrados na África Subsaariana. Entre as crianças, são 2,5 milhões de soropositivas atualmente.
No ano passado, o mundo teve 2,5 milhões de novos infectados, um total de 7 mil novos casos por dia. O número total de mortes por Aids no planeta chega a 35 milhões – 1,7 milhão só no ano passado. No Brasil, houve uma interrupção no aumento de mortes anuais pela doença.
Entre os países da América Latina, o Uruguai lidera os casos de HIV, seguido da Argentina e do Brasil.
Segundo o diretor do Hopsital Emílio Ribas, David Uip, o mundo ainda está longe de uma vacina segura e eficaz contra a Aids.
“Por isso, precisamos trabalhar na educação, na mudança de comportamento e no tratamento do maior número de infectados possível”, apontou.
Uip citou que, da década de 1980 até agora, o mundo passou de uma ignorância completa sobre a Aids para uma complacência total.
“Uma coisa é ter otimismo, que é necessário, outra é publicar notícias que não são reais e criar uma expectativa na população de que o problema está acabando. Os jovens não viram o que ocorreu na década passada, então estão se expondo muitas vezes voluntariamente”, disse em um debate com jornalistas.
Fonte: Do G1, Bem Estar