Em um cruzamento entre a cultura de rua e a erudição acadêmica, o rap brasileiro emerge como um potente gênero literário, capaz de dialogar com os grandes clássicos da nossa literatura, como a obra de Machado de Assis. Quem nos guia por essa instigante jornada é Dário Ferreira Sousa Neto, professor de Literatura Brasileira na UFMS-CPAN, doutor em Literatura Brasileira pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, coordenou o projeto de pesquisa “De Exu a Machado: encruzilhadas machadianas no Rap brasileiro”, coordenador do Projeto de Extensão “Literatura Hip Hop” e membro do Colegiado Estadual de Hip-Hop do MS.
Dário nos mostra como o rap, com sua linguagem vibrante e sua capacidade de denúncia, se apropria da literatura canônica, reinterpretando-a de maneira criativa e original. A pesquisa de Dário parte da análise de uma estrofe do rapper Baco Exu do Blues que cita Machado de Assis e Arthur Rimbaud, revelando a presença de procedimentos metafóricos que remetem à “irrealidade sensível”.
O conceito de “encruzilhada” surge como uma metáfora central, descrevendo o encontro entre a cultura literária e a cultura hip-hop. Nesse espaço, os dois mundos se encontram e se influenciam, revelando que a literatura e o rap não são mutuamente excludentes, mas sim complementares.
Machado de Assis, com sua ironia e perspicácia, é um autor frequentemente citado por rappers brasileiros. Sua obra se torna uma fonte de inspiração para letras que denunciam a realidade social e política do Brasil. O rap, por sua vez, é visto como uma forma de resistência cultural, permitindo que jovens expressem suas ideias e sentimentos de maneira autêntica.
Apesar do reconhecimento do rap como um gênero literário, ainda existem tensões e contradições. A linguagem do rap é alvo de críticas por, muitas vezes, ser considerada “grosseira” ou “agressiva”. No entanto, é justamente essa linguagem que opera procedimentos poéticos estudado por Dário e que permite aos rappers expressar a realidade de suas comunidades de forma autêntica, criativa e sem filtros.
A pesquisa de Dário Ferreira Sousa Neto nos convida a explorar mais a fundo essa rica encruzilhada entre a literatura canônica e o rap. É um espaço onde a palavra é poder, onde a criatividade e a resistência cultural se encontram, e onde a voz das ruas ecoa com a força de um clássico.
