Saúde – 30/01/2012 – 12:01
Recentemente, cientistas anunciaram a criação de um novo teste de urina que pode ajudar no diagnóstico do câncer de próstata. O exame detecta a presença da proteína EN2, que, em homens adultos, só é produzida por células cancerígenas na próstata. Pesquisadores da universidade britânica Surrey afirmaram que o novo teste é muito mais confiável na detecção da doença em estágio inicial que os outros exames existentes.
A notícia dá esperança aos homens que não querem enfrentar o exame de toque retal, ainda um dos melhores métodos para detectar anormalidades na próstata. Hoje em dia, o exame de toque e a análise dos níveis de PSA por meio de exame de sangue são as duas formas, complementares, na busca por problemas na próstata. O PSA é um antígeno prostático específico, uma substância só produzida pelas células da próstata. Quando o homem tem câncer, há um considerável aumento no nível do antígeno no organismo. Quando constatada uma anormalidade em um ou outro exame, biópsias são necessárias para confirmar o diagnóstico.
O teste de urina que detecta a EN2 seria mais eficiente que a análise de PSA, pois se o aumento dos níveis do antígeno no sangue não é causado por câncer em mais de 60% dos casos, o teste da proteína levou a um falso positivo em apenas 4% dos casos. Entretanto, o novo exame ainda está sendo testado e pode demorar até ser usado pela população. Um inconveniente do teste de urina é que ele é incapaz de determinar se o homem tem um câncer de rápida ou de lenta evolução, o que é essencial na determinação do tratamento. Mais grave é o fato de que pela urina, 34% de homens com câncer não tiveram a doença detectada, o que prova que o exame sozinho não seria suficiente para realizar diagnósticos.
Fim das campanhas governamentais
Apesar de que até 2008 eram comuns as campanhas governamentais de incentivo ao exame de toque retal para todos os homens acima dos 45 anos, o Instituto Nacional do Câncer do Ministério da Saúde (INCA) já não recomenda mais que o exame seja de rotina em pessoas que não apresentam sintomas e que não tenham casos na família. A mudança de diretrizes ocorre porque estudos realizados no Canadá, nos Estados Unidos e na Europa provam que o rastreamento – a aplicação de exames à população geral – não reduz a mortalidade pela doença. Para o INCA, os exames periódicos são recomendados aos homens maiores de 45 anos que tenham pai ou irmão com a doença e a todos os homens que apresentem sintomas normalmente associados à doença. Entre as primeiras manifestações de problemas na próstata estão dificuldade em urinar, frequência urinária aumentada e dor óssea.
Estudos realizados por órgãos europeus como o The Prostate Cancer Risk Management Programme e o Health Technology Assessment são os mais críticos às políticas de rastreamento do câncer de próstata. De acordo com as pesquisas, o investimento nos exames não se justifica uma vez que não se constatou redução no número de mortes e, mesmo nos casos detectados precocemente, os riscos do tratamento e o declínio da qualidade de vida do paciente podem não compensar o tratamento. A Organização Mundial da Saúde tampouco recomenda o rastreamento na população geral, afirmando que faltam estudos que comprovem sua eficácia e ressaltando que não se pode desconsiderar as mortes causadas pelos tratamentos agressivos ao câncer.
Médicos ainda defendem exames de rotina
Independente das diretrizes do Ministério da Saúde, a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda que todos os homens com mais de 45 façam o exame de toque retal e a análise dos níveis e PSA uma vez por ano, de acordo com o Dr. Jorge Noronha, coordenador do serviço de urologia do hospital da PUC-RS. Os exames devem ser mais frequentes para homens que têm maior chance de desenvolver a doença, ou seja, aqueles que têm histórico familiar de câncer de próstata, especialmente casos próximos como em irmãos, pais ou avôs, além de negros e obesos, grupos que estatisticamente apresentam mais a doença.
Segundo Noronha, os exames continuam diminuindo a mortalidade pela doença e ajudam a detectar o câncer precocemente, e “quanto antes se encontra a doença, maior a possibilidade de cura”, afirma. Sobre os testes de urina, o médico acredita que podem fazer parte de uma “nova era para o diagnóstico do câncer de próstata”. Ele explica que já é utilizado no Brasil um exame de urina que detecta o gene PCA3, ligado a este tipo de câncer, mas além de ser um exame caro, ele só é utilizado após o exame de toque retal e com o objetivo de esclarecer casos complexos. Sendo assim, os homens ainda não estão livre do exame retal, deverão haver alternativas no futuro.
A doença
A próstata é uma pequena glândula na parte baixa do abdômen que envolve a porção inicial da uretra e produz parte do sêmen. O câncer que ataca esta glândula é de evolução lenta: leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³. Por sua lentidão, é um câncer que muitas vezes se desenvolve por anos sem ameaçar a vida do doente.
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele. No mundo, é o sexto mais comum e o que mais atinge os homens. É considerado um câncer de terceira idade, já que cerca de 75% dos casos ocorre em homens com mais de 65 anos, e há maior incidência em países desenvolvidos que aqueles em desenvolvimento.
De acordo com o Inca, está comprovado que uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais e com pouca gordura animal, ajuda a diminuir o risco de câncer, como também de outras doenças crônicas. Além disso, o instituto recomenda fazer 30 minutos diários de atividade física, manter o peso adequado, consumir pouco álcool e não fumar.
Outros estudos
Pesquisadores na universidade de Michigan, nos EUA, também estão desenvolvendo um teste de urina para detectar o câncer próstata. Em estágio menos adiantado, a equipe deve levar ainda um ano para alcançar resultados significativos. O exame tem como objetivo detectar um defeito genético que está presente na metade dos casos de câncer de próstata. Por isso, o exame seria apenas complementar, já que em metade dos casos de câncer o defeito genético não está presente. Um estudo em andamento no Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos investiga as mutações genéticas relacionadas ao câncer de próstata. Eles identificaram, até agora, cinco mutações comuns e esperam desenvolver exames sanguíneos capazes de detectar estas alterações.
Fonte: Terra