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Números de guerra: Um ano de pandemia e do maior desafio da saúde de MS após mais de 3,6 mil mortes

No dia 14 de março de 2021, em que se completa 1 ano que foram registrados os dois primeiros casos de Covid-19 em MS, um balanço desses 365 dias que mudaram a vida dos sul-mato-grossenses.

15/03/2021 07h54
Por: Gabrielle Borges

Neste domingo (14) se completa um ano de pandemia de Covid-19 em Mato Grosso do Sul. Em 14 de março de 2020, a secretaria estadual de Saúde (SES) confirmava os dois primeiros casos de pessoas infectadas com o novo coronavírus no estado. A pandemia provocou mudanças na economia, nos empregos e na política, mas principalmente na vida das pessoas. Impôs novos hábitos e mostrou a dura realidade da estrutura pública de saúde do país.

Assim como ocorreu no mundo, impactou a vida de toda a população do estado. Em Mato Grosso do Sul, até este domingo (13), 194.346 haviam contraído o coronavírus e 3.614 morreram. O número de vítimas é o de uma guerra. No conflito do Afeganistão, quase 3,5 mil integrantes das forças da coalizão internacional morreram desde a invasão de 2001 – mais de 2.300 deles eram americanos.

Para retratar a história deste 1 ano de pandemia, o G1 conversou com autoridades de saúde, com o setor produtivo e médicos. Ouviu famílias enlutadas, pessoas que venceram a doença e quem recuperou a esperança, com a chegada das vacinas. Com base no que noticiou ao longo destes 365 dias e também em informações e pareceres oficiais e de especialistas elaborou uma linha do tempo da pandemia.

Dois gráficos. Um registra a quantidade de casos que o estado confirmou a cada mês. Ele mostra claramente todas as fases da doença, desde o início da primeira onda, seu crescimento, seu ápice, declínio e antes mesmo que terminasse a reaceleração da doença em sua segunda onda. Já o segundo cita alguns dos principais fatos que marcaram o mês a mês do enfrentamento da doença.

Primeiros casos

No dia 14 de março foram confirmados os dois primeiros casos de contaminação da Covid-19 pela Secretaria Estadual de Saúde (SES). As ocorrência foram dois dias depois da primeira morte registrada no Brasil, em São Paulo. As duas pessoas vítimas, sendo um homem e uma mulher, de 31 e 23 anos, respectivamente, tiveram amostras colhidas e deram positivo para Covid-19 no Laboratório Central de Mato Grosso do Sul (Lacen-MS).

Após esse duplo caso, os números de contaminados começaram a aparecer e de forma crescente, acendeu o alerta do desconhecido da pandemia que começou a ganhar força.

Medidas preventivas e a primeira morte

No dia 15 de março, para tentar impedir o avanço da pandemia, a prefeitura de Campo Grande suspendeu as aulas da rede pública do município. No dia 17 foi a vez do estado adotar a mesma medida.

Pouco depois, a prefeitura de Campo Grande anunciou o toque de recolher e várias outras medidas de enfrentamento a doença. Vários serviços públicos foram suspensos, como o transporte coletivo e até a rodoviária da cidade foi fechada, nesta quarentena. Eventos são proibidos para evitar aglomerações. As medidas valeram, inicialmente, por 15 dias, depois alguns pontos foram prorrogados e outros flexibilizados algum tempo depois. Outros municípios adotaram procedimentos similares.

O campeonato sul-mato-grossense de futebol é suspenso.

No início da segunda quinzena de março, a secretaria estadual de Saúde divulgava já o registro de 16 casos confirmados de Covid-19 e 50 suspeitos da doença.

O primeiro óbito em Mato Grosso do Sul pela pela Covid-19 foi no dia 31 de março. A vítima, uma idosa de 64 anos, moradora de Batayporã, no sudeste do estado. Segundo a secretaria estadual de Saúde (SES), ela estava internada em um hospital particular em Dourados.

O caixão da primeira vítima saiu lacrado do hospital e segundo a funerária, não houve velório. Uma situação que muitas outras famílias passaram a enfrentar: um adeus sem despedidas!

Em situação de calamidade pública devido à disseminação do coronavírus, diversos municípios de Mato Grosso do Sul decretaram diversas medidas que objetivam a restrição de circulação de pessoas. A capital implantou barreiras sanitárias para tentar frear o avanço dos casos.

As aulas presenciais das redes privada, municipal e estadual foram canceladas e todos passaram a estudar de casa com atividades que passaram a ser remotas. Só a rede estadual 210 mil alunos foram afetados.

Em prática desde o final de março, as aulas remotas foram iniciadas com o apoio de diversos canais para distribuição de conteúdo, como aplicativos e sites criados pelas escolas da rede estadual. A secretaria estadual de Educação (SED) ampliou o uso da plataforma Protagonismo Digital, que funciona como um acervo de ferramentas para o ensino não presencial.

A quarentena foi outro ponto que mostrou a fragilidade de famílias que vivem em situação vulnerável por todo o estado. Em Campo Grande, a prefeitura suspendeu temporariamente o corte do abastecimento de água das famílias que estavam em atraso, por conta a crise provocada pela pandemia. A Aneel adotou a mesma medida em todo país para as concessionárias de energia elétrica e o governo do estado para os municípios atendidos pela Sanesul.

Ações para ajudar essas pessoas tornaram-se frequentes e um bom exemplo, da cidade de Aquidauana, a 140 km de Campo Grande, mostrou empatia e preocupação com o próximo. Foi durante uma missa inusitada no início de abril, na paróquia Imaculada Conceição, que uma cena chamou a atenção e viralizou na internet: no lugar de fiéis, 130 cestas básicas colocadas nos bancos – que posteriormente foram doados às famílias que estão em quarentena por conta da pandemia do coronavírus.

Primeira onda

De abril, quando foram registrados 207 casos em todo o mês, o número cresce quase seis vezes em maio, totalizando no mês, 1.234 e quase 31 vezes quando comparado com os número de junho, 6.476. A quantidade de mortos pela doença aumenta mais de oito vezes, na comparação dos dados de abril, 8, com junho, 71. O estado termina o primeiro semestre acumulando 91 mortes e 7.965 casos.

Uma mulher de 35 anos, moradora da aldeia Bororó, em Dourados, é o primeiro caso de covid-19 em indígena em Mato Grosso do Sul. O caso foi confirmado no dia 13 de maio.

O epidemiologista e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Cremildo João Baptista, acredita que durante esse período de crescimento de casos da doença na primeira onda da pandemia, faltou um pouco mais de atenção da população e das autoridades para tentar conter o avanço da Covid e o pico que chegariam entre julho e agosto.

Guia Lopes da Laguna: maior incidência da Covid-19

Ainda em maio, o município de Guia Lopes da Laguna, de quase 10 mil habitantes, registrou 106 casos da Covid-19, de acordo com a secretaria de Saúde do município. Na época, a incidência de casos era a maior do estado: 53 vezes maior do que a da capital Campo Grande (2 casos por 10 mil habitantes ) e quase 9 vezes maior do que a média nacional (12 casos por 10 mil habitantes).

De acordo com a prefeitura, o avanço da doença estava diretamente relacionado à disseminação dentro de um frigorífico da cidade, onde seis funcionários testaram positivo para a doença em um intervalo de 7 dias. Conforme o órgão: “90% deles tem relação com as pessoas que trabalhavam no estabelecimento.

No final de julho – o ponto mais crítico até então – a pandemia da Covid-19 esteve preste a atingir o pico da primeira onda. As mortes pelo novo coronavírus cresceram 342,3%. Foram registrados 376 óbitos desde o início. Nesse mesmo mês, os casos teve um aumento de 187,4% e julho fecha com 24.936 pessoas que testaram positivo para a doença em todo o Mato Grosso do Sul.

Dourados: primeiro epicentro da Covid-19 em MS

Nessa época, o município de Dourados, a 229 quilômetros de Campo Grande, segundo mais populoso de Mato Grosso do Sul, com cerca de 220 mil habitantes, torna-se o epicentro da covid-19 no estado. Em um mês, casos saltam de 236 para 2.670

Os dois primeiros casos de Covid-19 em Dourados foram registrados no dia 28 de março. Na época, o estado tinha 31 casos da doença e nenhum óbito. Não demorou para que a cidade ultrapassasse Campo Grande em casos de coronavírus.

No mês de agosto – considerado o mais crítico desde março – atinge o pico da primeira onda. O pior veio neste mês, quando o recorde do número de mortes atinge o ápice, com 478 vítimas, um crescimento de 48%.

A beira de um colapso

De acordo com o infectologista Júlio Croda, o aumento exponencial no número de casos e mortes em julho e agosto quase provocaram um colapso no sistema de saúde do estado. A ocupação de leitos de UTI atingiu 95% em Dourados e, no fim de julho, e deixou os hospitais de Campo Grande com 100% das UTIs para pacientes com Covid-19 no SUS ocupadas. “Mas em nenhum momento houve falta de leitos ou pessoas morrendo sem conseguir atendimento médico”, ressaltou.

No pico da primeira onda, o estado registra somente em agosto 24.001 novos casos, 41% a mais que julho, e 489 mortes, número 52% maior do que o do mês anterior. No saldo da pandemia, o estado contabiliza 48.937 infectados e 862 óbitos.

Após o período do pico, o número de casos começa a cair lentamente em setembro. A prefeitura de Campo Grande aumenta flexibilizações e retorno ao ensino presencial nas escolas da rede privada que oferecem o berçário e ensino infantil. Entretanto, no feriado prolongado, cidades turísticas registram grande fluxo de pessoas e aglomerações.

Segunda onda

O número de casos continua a cair em outubro. Atinge o patamar mais baixo desde julho. Mesmo em declínio autoridades da saúde reforçam apelo para população não deixar de se prevenir contra a doença e evitar aglomerações no feriado prolongado do aniversário de criação do estado e de Nossa Senhora Aparecida.

Em novembro o número de casos volta a crescer. Ligações para agendamento de testes para a detecção da Covid-19 crescem 67% e autoridades de saúde admitem que o estado mesmo sem ter concluído a primeira onda, entra na segunda da doença. Para conter o avanço da doença, prefeitura de Campo Grande volta a decretar toque de recolher.

O infectologista Júlio Croda, diz que o estado poderia ter aproveitado melhor o momento de redução do número de casos na primeira onda. “Era o momento que poderíamos ter uma queda ainda mais acentuada no contágio, mas não conseguimos muito devido as flexibilizações das prefeituras”, explica.

Na época, o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, destacou que também estava preocupado com a negação da população em relação a situação da pandemia de Covid-19, que estaria se refletindo na queda da procura pelos testes para a detecção do novo coronavírus. Resende ainda criticou as aglomerações e festas que eram realizadas em todo o estado.

Feriados x aglomerações impulsionam segunda onda

Mesmo com a pandemia da Covid-19, cidades sul-mato-grossenses conhecidas pela potencial turístico registraram intenso fluxo de turistas durante os feriados prolongados do segundo semestre. Municípios de Bonito, Rio Verde e Sete Quedas, receberam centenas de turistas. Com altas temperaturas, praças, balneários e o setor do comércio, registraram grande movimento por conta dos visitantes e que muitos insistiram em não usar máscaras de proteção.

Pico da segunda onda

Em dezembro o estado atinge o pico da segunda onda. Registra o maior número de casos, 34.700 e de mortes, 587, em único mês de toda a pandemia. Comemorações e fim de ano públicas são canceladas e o governo do estado decreta um toque de recolher para todos os 79 municípios.

Vacinas: renovação de esperança

O ano de 2021 começa com a doença em alta no estado. Janeiro registra o segundo maior número de casos e de mortes de toda a pandemia. Mas o mês também traz a esperança, com a chegada das primeiras doses da vacina ao estado. Uma indígena de 91 anos foi a primeira pessoa a receber a primeira dose da vacina contra a Covid-19 em Mato Grosso do Sul, na noite desta segunda-feira (18), no Hospital Regional de Campo Grande.

A imunização foi realizada em evento que marca, simbolicamente, o início da vacinação no estado e ainda aplicou vacinas em mais três pessoas de grupos prioritários: um médico da linha de frente, uma idosa moradora de asilo e uma enfermeira. Até o dia 9 de março o estado havia recebido 317 mil doses de vacina.

Vacinação de indígenas aldeados

Cerca de 39% dos indígenas aldeados de Mato Grosso do Sul não receberam nem a primeira doses da vacina que garante a imunização contra a Covid-19, de acordo com os dados da secretaria estadual de Saúde (SES). Logística, armazenamento e até boatos pela internet dificultaram a vacinação de indígenas contra Covid-19 no estado.

Momento mais crítico

A pandemia fez o governo suspender todas as atividades carnavalescas no estado. Mesmo com a medida, o número de casos volta a crescer e autoridades de saúde dizem que estado enfrentam em março o momento mais crítico da pandemia. Campo Grande chega a ser a capital com maior taxa de ocupação em UTIs para Covid-19 do país, conforme a Fiocruz. Vacinação avança, mas em ritmo lento.

No início de março a prefeitura da capital informou que cerca de 1 mil covas serão abertas no Cemitério São Sebastião (Cruzeiro), na região norte da capital. A medida já havia sido elaborada em 2020, porém a pandemia de Covid-19 acelerou este processo.

Governo do estado decreta medidas mais rigorosas a partir deste domingo (14), como toque de recolher das 20h às 5h em todo o estado. Estabelecimentos se adequam a novos horários.

Veja abaixo a linha do tempo com os alguns dos fatos que marcam esse um ano de pandemia no estado:

— Foto: Anderson Viegas/G1 MS

— Foto: Anderson Viegas/G1 MS

Corpo da vítima do novo coronavírus sendo transportado — Foto: Carlos da Cruz

Fiscais em uma das barreiras sanitárias de Campo Grande — Foto: PMCG/|Divulgação

Escolas da rede estadual de MS vão continuar com aulas presenciais suspensas até o dia 7 de setembro — Foto: Edemir Rodrigues/Subsecom

Cestas básicas serão destinadas para famílias carentes de Aquidauana (MS). — Foto: Arquivo Pessoal/Padre Paulo Sousa

Após casos de coronavírus confirmados, prefeitura de Guia Lopes da Laguna decretou a restrição quase que total de pessoas no município. — Foto: Prefeitura de Guia Lopes da Laguna/Divulgação

Dourados se torna o epicentro da doença em Mato Grosso do Sul. — Foto: Divulgação/Prefeitura de Dourados

Hospital referência no tratamento para Covid-19 em Mato Grosso do Sul está quase lotado — Foto: HRMS/Divuldação

Fila de carros para entrar na cidade de Bonito (MS). — Foto: Secretaria de Turismo de Bonito/Divulgação

Primeira pessoa a receber vacina em Mato Grosso do Sul foi indígena de 91 anos — Foto: TV Morena/Reprodução

Infográfico 1 ano de pandemia em MS - Datas — Foto: Anderson Viegas/G1 MS

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