Política – 17/05/2012 – 17:05
Requerimento de senador foi criticado durante reunião da comissão que investiga negociatas entre Cachoeira e políticos
O requerimento para resgatar informações prestadas pelo jornalista Policarpo Júnior, diretor da sucursal da revista Veja, em Brasília, à CPI dos Bingos, em 2006, causou discussão entre os parlamentares da CPI do Cachoeira. O pedido foi apresentado pelo senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), mas não foi aceito pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG). No entanto, dividiu o plenário da CPI e tomou a maior parte da reunião desta quinta-feira.
Embora tenha defendido a investigação da imprensa, Cunha decidiu declarar que o pedido estaria prejudicado, pois a comissão já aprovou outro requerimento pedindo todas as ligações das operações Vegas e Monte Carlo, em estado bruto. Portanto, os telefonemas mencionando Policarpo estariam nesse material.
No pedido, Collor lembrou que o jornalista testemunhou a favor de Cachoeira na CPI do Bingos e pediu que a CPI destacasse desse depoimento as partes que indicam a relação com Cachoeira. “É necessário que pincemos esses trechos para que fique comprovado um conluio entre Policarpo Júnior e Cachoeira.”
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) foi o primeiro a falar contra o requerimento. “Destacar uma pessoa ou outra (nas gravações) é submetê-la a um regime diferenciado que pressupõe culpa – e logo de quem, de um jornalista”, criticou. “O jornalista tem o dever de investigar, e ninguém sabe do mundo da corrupção, quer seja do mensalão, quer seja de outros casos de corrupção, conversando exclusivamente com perfis como de Madre Teresa.”
Segundo Miro, o policial conversa com pessoas próximas ao crime para chegar a suas investigações. “Há coisas que só se descobre com briga de quadrilha”, afirmou, citando ainda decisões do Supremo Tribunal Federal afirmando que a função do jornalista é investigar.
O senador Pedro Taques (PDT-MT) apontou um desvio de foco na CPI e classificou o requerimento como “ridículo”. “Enquanto deveríamos votar convocação de governadores de Estado, estamos fazendo dessa CPI um instrumento de vingança contra a imprensa”.
A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) também criticou o requerimento. “O jornalista vai até onde está a informação, e às vezes essa informação está no inferno, não está no céu “, afirmou, acrescentando que “o Brasil não é a Venezuela e nem a Argentina”.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) parafraseou um dos principais “pais fundadores” da Declaração de Independência dos Estados Unidos, Thomas Jefferson: “Entre um governo sem imprensa e a imprensa sem governo, prefiro a última alternativa”, disse. Segundo o senador, o pedido de Collor viola a legislação brasileira e diversos tratados internacionais que garantem a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e o sigilo da fonte. “Seria um precedente pernicioso inominável. É uma indignidade trazer aqui como réu um jornalista que apenas cumpriu um dever.”
Paulo Teixeira, deputado do PT, defendeu o requerimento de Collor, afirmando que “essa relação promícua que sobreviveu uma década” deve ser investigada. O senador Humberto Costa (PT-SP) negou ameaças à liberdade de imprensa. “O jornalista não está sendo convocado e nem tendo seu sigilo quebrado. O que se pede aqui é simplesmente tirar de um conjunto de informações um determinado grupo de dados que são relevantes. Aqui todo mundo quer convocar todo mundo, mas existem alguns intocáveis da República”, afirmou, referindo-se à imprensa e ao Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel.
A comissão realiza essa reunião administrativa por conta dos adiamentos dos depoimentos dos procuradores da República Daniel Salgado e Léa Batista de Oliveira, que deverão ocorrer em 31 de maio.
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