Geral – 25/01/2012 – 09:01
A primeira empresa de Marcelo Ostia,31, faliu. Vindo do interior de São Paulo para a capital, ele sobreviveu com R$ 4 por dia. Alugou vaga de estacionamento, mesmo sem ter carro, para fugir da violência das ruas. No inverno, tomou banho em um tanque de lavar roupas de uma indústria e, por isso, era vítima de gripes frequentes. Conseguiu se reerguer: hoje é empresário com loja própria e 340 microfranquias.
Descobri que havia nascido para trabalhar com confecção aos sete anos, quando ganhei uma camiseta do Batman e fiquei curioso para saber como ela havia sido feita.
Aos 18 anos, confirmei a teoria ao abrir uma empresa de estamparia de roupas em Itu [a 101 km de São Paulo], cidade onde moro hoje. Ganhei muito dinheiro [com o negócio], mas como era “filho de papai”, não soube aproveitar a oportunidade.
O empreendimento chegou ao fim quando tomei calote de R$ 4.500 de um dos clientes e fiquei no vermelho. Para microempresas, qualquer perda é um grande prejuízo.
Falido e desempregado, fui para São Paulo com R$ 50 para vender peças personalizadas e reerguer minha vida financeira. Durante um mês, sobrevivi com R$ 4 por dia.
Para não dormir na rua, aluguei um estacionamento no Brás (centro de São Paulo). Não tinha carro, mas usava a vaga para descansar. Era uma forma de me proteger da violência nas ruas. Dormia sobre um cobertor velho e usava camisetas com defeito como travesseiro.
Durante o inverno, tomava banho no tanque de uma fábrica sem xampu nem sabonete. Sentia frio e pegava gripe com muita facilidade. No começo da noite, vagava pelas ruas para evitar o barulho do entra e sai de carros no estacionamento.
TAPA NA CARA
A minha vida mudou quando tomei um “tapa na cara” do destino: recebi uma blusa usada de representantes da prefeitura em uma campanha que dá roupas a pessoas carentes. Eu, que vendia peças novas, aceitei uma antiga.
Era com essa camiseta que me cobria enquanto dormia no estacionamento. Três meses depois de chegar a São Paulo, a mãe de um colega me chamou para morar com ela e deixar as ruas.
Era uma muçulmana de quem até hoje só consegui ver os olhos [por causa da vestimenta]. Fico triste por saber que, se encontrá-la, não a reconhecerei para agradecer o que ela fez por mim e pela minha carreira.
Os planos na capital foram interrompidos quando soube que minha namorada, em Itu, estava grávida. Voltei ao interior disposto a ser empregado para criar o bebê.
Fiquei três meses distribuindo currículo e consegui emprego como auxiliar administrativo em uma fábrica. Mas a alegria não durou muito. Um salário mínimo não foi suficiente para sustentar a minha filha.
RECOMEÇO
Para complementar a renda, voltei a vender camisetas personalizadas em um portal de compras. Foi um recomeço em 2004.
Meu interesse de infância em empreender foi atiçado, apesar de ter falhado na primeira tentativa. Juntei R$ 300 e montei um site para mostrar e vender as peças. A ideia deu frutos e, depois de um ano, transformou-se no site Camisetas da Hora. Deixei de ser empregado.
Hoje vendo cerca de 8.000 camisetas por mês e tenho faturamento mensal de R$ 100 mil, loja própria em um shopping na cidade de Itu e 340 microfranquias distribuídas pelo Brasil.
A minha meta como empreendedor é chegar a mil microfranquias no país, exportar as peças e ser reconhecido como o maior empresário de camisetas do mundo.
Minha história fez toda a diferença para o sucesso como empreendedor.
As dificuldades me fizeram ser uma pessoa melhor e mais humilde, compreensiva e paciente. A camiseta usada que ganhei na campanha está hoje emoldurada e pendurada em uma das paredes da empresa.
Fonte: Folha