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Essas Pobres Mulheres Ricas

Entretenimento – 06/01/2012 – 09:01

Pois nunca, nunca se pode dizer que se viu de tudo ou que se chegou ao fundo do poço. Tudo é algo que a gente refaz diariamente, e nenhum poço tem fundo, como nos ensina a Band com o seu inestimável “Mulheres Ricas”, o mais novo irreality show da tevê brasileira. “Mulheres Ricas” está aqui e agora, ecoando qual Michel Teló pelo mundo todo, ao ponto de o prestigioso jornal The Guardian ter dado matéria sobre as nossas pobres ricas e suas vassouras incrustadas de brilhantes.

O programa é um instantâneo de um pedaço desse Brasil que muda e ganha 17 novos milionários por dia, li em algum lugar. Nossos ricos andaram pelo NY Times também. Eles estão salvando a economia da Flórida, com suas viagens para comprar apartamentos em condomínios em Boca Raton, para superar a riqueza latina dos ricos venezuelanos, mexicanos, ex-cubanos que por lá gorjeiam para trazer Dolce & Gabbana a preço de bannana. Ah, os nossos ricos, exportando a si mesmos para poderem finalmente ostentar sem medo de sequestro.

Eles são ricos e agora em moeda forte. Até dias atrás eram pobres ou aspirantes a ricos. Agora que chegaram, não querem fazer bonito, querem se lambuzar, o que é sempre uma lambança e um exagero. No entanto, muita gente quer pagar para ver, ao ponto de o horror show estar já com a segunda temporada garantida, parece.

Scott Fitzgerald, estudioso da espécie, escreveu que “os muito ricos são gente estranha”. Não era desses aí que ele falava. Era dos ricos com tanto dinheiro quanto aparato, os Hughes, Kennedy, Morgan, Carnegie, que propeliram o capitalismo americano e se encastelaram no poder com direito a excentricidades de altíssimo calibre, e não tolices de franguinhos que apenas ciscam. Os ricos deles, tanto os muito ricos quando os ricos, sentem um certo compromisso com o estilo e com a filantropia. Os nossos, necas.

Acontece que os nossos são brasileiros, e nós, brasileiros, somos muitas coisas, e elas incluem uma dose alta de uma breguice e outra de vulgaridade. Basta correr os olhos pela São Paulo dos bairros novos e ricos para ver o que é a arquitetura do nosso novorriquismo. Para comparar, olhem os bairros ricos da Argentina, do Chile, da Colômbia e mesmo Venezuela. É outra riqueza, ou outra estética. A nossa é mais ou menos isso que a gente vê nessas mulheres ricas em grana e pobres em espírito. Somos assim, como país, como sociedade. Lemos pouco, pensamos raso, noves fora as exceções, que marcam exatamente por serem exceções.

Somos crianças, agora endinheiradas. Somos infantis, agora podendo comprar os brinquedos e a loja. Somos desatinados, e, portanto, exageramos na dose, por todos os lados. Por isso a Itália teve um Júlio II, e nós um Edir Macedo. Já viram as catedrais do bispo?

Não sei o que representa esse nosso interesse coletivo por pessoas que não nos representam. Nosso público gruda vendo os mais ou menos pobres marombados e com consoantes duplas do BBB, e agora vendo essas mulheres e seus cérebros de escargot no “Mulheres Ricas”. Uma parte da gente olha para aquilo com surpresa e riso. São ridículas essas ricas, deus do céu. Outra parte nossa olha com desejo, não para elas, que não parecem tão apetitosas assim, mas para a atitude de poder ir ali fora e comprar um jato particular para ir ao supermercado, e então comprar o supermercado e construir uma pista de pouso ao lado. A verdade é que, forçados a uma vida de contenção, admiramos os exageros, não importando muito de onde venham e para onde deixem de ir. “Mulheres Ricas” é engraçado exatamente pela incapacidade dessas mulheres em produzir humor, ao menos por vontade própria. Elas se levam a sério, na crença de que dinheiro é igual a alguma forma de sabedoria. Não é.

Os maridos delas é que devem ser os ricos de verdade, imagino. Elas devem ser apêndices de rico, o que é, acredito, um apêndice rico, mas um apêndice. Duvido que elas tenham capacidade própria de gerar dinheiro, embora se mostrem usinas na hora de gastar.

Penso que no califado árabe, alguém me contou, o califa, sultão, que seja, tomava o primeiro filho como herdeiro e o segundo como estepe. Houvesse um terceiro, para não precisar fazê-lo sumir, colocava em um palácio dos prazeres, onde todos os seus desejos eram atendidos e ele se tornava um tolo desprovido de noção ou competitividade. Isso era seguro para todos, ao custo de uma vida idiotizada.

Não sei, nem nunca vou saber o que acontece de verdade quando podemos comprar tudo. Escritores, mesmo mundialmente conhecidos em partes da Grande São Paulo, como esse que vos escreve, não chegam nem perto desse poder de fogo. Acho que a ideia não é nada má em si, e penso que os meus milhares de leitores testam a sorte na Megasena exatamente por isso.

A se julgar pelo efeito do dinheiro absoluto sobre essas “Mulheres Ricas”, os sultões estavam certos. E é isso o que eu creio que se pode dizer sobre o programa, sobre nós mesmos, apenas isso, e mais nada.

Fonte: Terra

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