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quinta-feira, 28 de novembro, 2024

Eleição em Mato Grosso do Sul inclui candidatos alvos de escândalos

Puccinelli chegou a ser preso em operação da PF, enquanto Marquinhos Trad é suspeito de assédio sexual.

MS vive um ano atípico em sua história, sendo o estado de nascença e base eleitoral de duas candidatas à Presidência da República: as senadoras Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (UNIÃO). Também deve ter uma das disputas mais acirradas na sucessão ao governo dos últimos anos, com destaque para quatro candidatos que já gravitam na esfera política da região.

Entre os nomes da disputa, estão o ex-governador André Puccinelli (MDB), o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) e o ex-secretário de Governo e de Infraestrutura Eduardo Riedel (PSDB), nome lançado pelo atual governador, Reinaldo Azambuja (PSDB).

Ainda concorre a ex-vice-governadora Rose Modesto (UNIÃO), que deixou o ninho tucano justamente por não encontrar espaço para se lançar candidata, e agora, disputa votos com os outros dois concorrentes que tentam ultrapassar Puccinelli na disputa.

A lista de candidatos ainda inclui Capitão Contar (PRTB), apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), Giselle Marques (PT), Adonis Marcos (PSOL) e Magno Souza (PCO).

“Temos no estado um congestionamento de candidatos com boa votação, quatro deles com cacife eleitoral”, diz o cientista político e professor de ciências sociais da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Daniel Miranda.

Puccinelli foi governador por dois mandatos, de 2007 a 2014, sempre pelo MDB. O partido, porém, perdeu a eleição ao governo para o antigo aliado, o PSDB de Reinaldo Azambuja, que deslocou a legenda da sombra emedebista.

O possível embate direto entre os dois ex-aliados ficou pelo caminho com a prisão de Puccinelli em julho de 2018, durante a Operação Lama Asfáltica, da Polícia Federal. A ação apurava, desde 2015, o desvio de verbas de recursos públicos na execução de obras durante a gestão do MDB. O ex-governador só deixaria a prisão em dezembro daquele ano.

O emedebista tem dito que sofreu perseguição judicial e que as acusações eram infundadas. Tem ressaltado também que nem sequer foi condenado em primeira instância.

Na eleição de 2018, o MDB não chegou nem ao segundo turno e viu Azambuja se reeleger ao cargo. Depois desse hiato, Puccinelli volta ao cenário político em aliança com o Solidariedade e tem aparecido bem em pesquisas.

O segundo colocado veio de família tradicional na política. Irmão do senador Nelsinho Trad e do deputado federal Fábio Trad, Marquinhos deixou o cargo em abril deste ano para concorrer ao governo e, em julho, também se envolveu em escândalo, passando a ser alvo de investigação de assédio sexual.

Os relatos apontam para casos que teriam ocorrido até dentro do gabinete, em que pelo menos quatro mulheres teriam recebido promessa de emprego e inserção em programas sociais em troca de favores sexuais.

A Polícia Civil não divulga quantas mulheres procuram a DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) depois que as denúncias vieram à tona, mas confirmou que a investigação segue sob sigilo.

Trad nega que tenha cometido crime e diz que a acusação é campanha difamatória, mas admitiu ter cometido adultério com pelo menos duas mulheres.

Para o cientista político Miranda, os escândalos de corrupção e de assédio sexual são os principais obstáculos de Puccinelli e Trad durante a campanha.

No caso de Eduardo Riedel, o desafio é o de ser um nome praticamente desconhecido da população, apesar de ter feito parte do secretariado de Azambuja desde 2015.

A campanha explora e tenta reverter a situação: em um dos programas eleitorais, Riedel aparece dizendo que “nunca buscou holofotes”, pois estava preocupado em trabalhar pelo estado.

Riedel conta com o apoio da máquina do governo, coligação com seis partidos que lhe garante maior tempo na TV, e tenta colar sua imagem à de Bolsonaro.

Na última visita do presidente à Campo Grande, em junho, os dois desfilaram juntos em carreata e posaram para fotos. O apoio explícito não veio, mas Riedel seria a escolha dele, segundo declarações da candidata ao Senado, Tereza Cristina (PP), em programa eleitoral tucano.

Quem também esperou pelo apoio, mas teve que se contentar com a aparente neutralidade foi o deputado estadual Capitão Contar, ex-companheiro de Bolsonaro no PL.

O cientista político avalia que a eleição em 2022 pode ser de “refluxo ao bolsonarismo”, fenômeno que teria menor influência do que teve em 2018, quando havia ânsia do eleitorado em renovar o cenário político. Foi naquela leva, por exemplo, que a senadora Soraya Thronicke se elegeu pelo PSL em MS.

Rose Modesto tem a vantagem de ser nome mais conhecido do eleitorado. Pelo PSDB se elegeu vice-governadora (2014) e deputada federal (2018). Em 2016, chegou a disputar a prefeitura da capital, mas perdeu para Marquinhos Trad no segundo turno.

As pesquisas indicam que Rose está colada em Trad e Riedel. Hoje, o cientista político acredita que a chance de chegar ao segundo turno é pequena, apesar do apoio do Podemos e do Pros.

“Talvez o União não tenha estrutura suficiente para alavancar a candidatura dela”, diz. Mas, no segundo turno, seria uma aliada de peso, que poderia fazer seu eleitorado migrar e decidir a eleição.

Já os candidatos de esquerda, Giselle Marques, Adonis Marcos e Magno Souza, avalia, não teriam força para decolar. A eleição do PT ao governo em 1998 (e reeleição em 2002, com José Orcírio Miranda dos Santos, conhecido como Zeca do PT, foi fator que não deve se repetir em futuro próximo.

Folha de São Paulo

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