O Comando do órgão no Rio de Janeiro está no centro do inquérito que apura se Bolsonaro tentou ou não interferir na corporação
20/05/2020 08h30
Por: Patrícia Fernandes com informações da Folha de São Paulo
RIO DE JANEIRO (RJ) – Em novo depoimento prestado nesta ultima terça-feira (19), o diretor executivo da Policia Federal, Carlos Henrique Oliveira de Souza, mudou sua versão anterior e disse que Alexandre Ramagem, já tratava da troca da chefia da superintendência da PF no Rio de Janeiro, antes mesmo de ser nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro.
O Comando do Rio, está no centro do inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir na PF, para conseguir ter acesso as investigações com potencial de atingir sua família e aliados.
Oliveira que era superintendente, assumiu recentemente a diretoria executiva, o segundo cargo na hierarquia da PF, prestando depois na semana passado e tendo feito o pedido para ser reinquirido.
No primeiro depoimento, quando questionado se havia algum cotado para a diretoria geral da PF, e ele afirmou que não.
Já nesta terça-feira (19), em novo depoimento, ele já muda sua versão e diz: “na verdade”, fui procurado por Ramagem no dia 27 de abril, na qual perguntou se aceitaria ser o diretor executivo em sua gestão, e Oliveira afirmou ter aceitado o convite no dia seguinte.
Ramagem foi nomeado no dia 28 de abril por Bolsonaro, porém, o Supremo Tribunal Federal barrou o ato por indícios de desvio de finalidade.
Com esse veto, quem assumiu a corporação foi o delegado Rolando Alexandre de Souza, que é ligado a Ramagem, porém manteve seus planos e alçou Oliveira a diretoria executiva.
No depoimento de Ramagem, ele declarou não ter tido qualquer influencia na nomeação de Oliveira para a diretoria executiva.
Essa troca de comando já é alvo de suspeitas desde o mês de agosto do ano passado, quando Bolsonaro fez a primeira investida por mudança, porém, o presidente negou interesse nas investigações em curso no Estado.
Oliveira também fez uma nova declaração, dizendo que no segundo semestre de 2019, Ramagem o chamou para uma reunião com Bolsonaro no Planalto, na época ele chefiava a PF em Pernambuco e era cotado para o cargo no Rio.
Esse encontro, foi fora dos padrões, uma vez que nem o diretor geral da PF, Mauricio Valeixo e nem o ministro da Justiça, Sérgio Moro, estiveram presentes, além disso os indicados para as demais superintendências não foram convidados e segundo o depoente, Moro e Valeixo, não puderam participar do evento, pois, estavam fora de Brasília.
Foi perguntado sobre um possível vazamento da operação Furna da Onça, em 2018, cujo os desdobramento envolveram o ex assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, situação na qual envolvia o próprio congressista em um suposto esquema de “rachadinha” de salários dos servidores.
Segundo o depoente, que é suplente de Flávio e também pré candidato a prefeitura do Rio, disse que algum delegado chegou a antecipar a investigação ao senador, afirmando que a operação havia sido adiada para depois do segundo turno pois, assim não iria atrapalhar a eleição de Bolsonaro.
Já Oliveira, diz que não se lembra de qualquer relatório da inteligência financeira da Coaf, que não se recorda das datas dos mandados, mas que a operação teve uma tramitação atípica, pois o juiz federal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, Abel Gomes, não teve uma decisão monocrática, levando a para a turma criminal.
Em contexto foi discutido se haveria algum policial que seria próximo de Bolsonaro, familiares e amigos, Oliveira citou o delegado Márcio Derenne, relatando que atualmente ele presta serviços no exterior para a Interpol, na qual teria ligação com um dos filhos do presidente. O policial ao ser citado, foi registrado que também já havia trabalhado para outros políticos, entre eles o filho do ex presidente da Assembleia do Rio, Jorge Picciani que é investigado na Furna da Onça, o ex ministro “Picciani Filho”.
O diretor de inteligência, Cláudio Ferreira Gomes, afirmou nunca ter recebido uma noticia sobre a suposta falta de atuação da PF no fornecimento de informações ao chefe executivo, como reclamou Bolsonaro na reunião do dia 22 de abril. De acordo com, Cláudio, o Sistema Brasileiro de Inteligência atendeu a todos os pedidos e que contou com a participação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Na versão de Gomes, ele disse que desconhece qualquer trabalho da PF que tenha relação com os crimes cometidos por integrantes da família Bolsonaro e nem sobre as fake News, e em relação ao assassinato de Marielle Franco, a diretoria de inteligência se limitou ao cumprimento de um requerimento da PGR para apurar uma eventual obstrução de justiça, sem antes ter apurado a autoria do crime.