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Três Lagoas
sábado, 23 de novembro, 2024

Cerol fatal: tragédia que matou Cátia não foi a primeira nem será a última

Por Robson Trevisan

A tragédia que levou à morte, a motociclista Cátia Pavaneli Cardoso, de 34 anos, na tarde do último sábado, 27.01, infelizmente, é apenas mais um capítulo de uma longa história de vítimas de uma prática proibida por lei: o uso de cerol nas linhas de pipas.

Mesmo quando não há fatalidade, os acidentes costumam ser graves e a vida das vítimas, costumam ficar – literalmente – por um fio.

Acidente na Custódio Andries, em 2020. Diferente de Cátia, vítima se salvou (Foto: Arquivo Rádio Caçula)

Há quase quatro anos, em maio de 2020, por exemplo, uma motociclista foi atingida por linha de cerol quando trafegava pela avenida Custódio Andries, nas proximidades do Cemitério Municipal, no Jardim Maristela. Ela se salvou.

Em 2015, Inocêncio Pinheiro de Melo, na época com 55 anos, também conseguiu se salvar. Mas, por pouco. Foram 12 pontos no pescoço. Ele pilotava sua moto na avenida capitão Olinto Mancini, por volta das 11h da manhã, quando foi atingido pela linha com cerol.

“Por pouco, quatro crianças não tiram minha vida”, desabafou na época. (Foto: Ricardo Ojeda/Perfil News)

Acidentes como de Inocêncio motivaram os vereadores de Três Lagoas aprovarem a Lei N° 3360, de 28 de novembro de 2017, que proíbe o uso de cerol e a comercialização de produtos semelhantes, normalmente utilizados, para deixar a linha mais “cortante”.

De acordo com a lei, o “estabelecimento que comercializar esse tipo de produto será, imediatamente, lacrado e terá seu alvará de funcionamento suspenso pelo período de três meses.”

Na prática, no entanto, não é isso que se vê em Três Lagoas. Não há fiscalização e o comércio de cerol continua sem maiores consequências.

Quando acontece o pior, os autores identificados normalmente são crianças e adolescentes. Na pior das hipóteses, os pais são ouvidos, liberados e – em raríssimos casos – responsabilizados criminalmente pelo ato de seus filhos.

É crime!

Quem solta pipa com linha cortante próximo a uma via pública tem que ter consciência dos riscos a terceiros. A prática é considerada crime, inclusive, nos artigos 121 (homicídio), 129 (lesão corporal) e 132 (perigo para a vida ou saúde de outrem) do Código Penal.

Em relação às crianças flagradas usando cerol, é possível interpretar o item como arma e incluí-lo no artigo 81 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que proíbe a venda de determinados produtos e serviços a menores de idade.

Conscientização

Não é de hoje que o assunto é tema de “cobrança” por providências. Exemplo disso é que, em 2012, ou seja, há 12 anos, a apresentadora Toninha Campos recebeu – em seu programa de rádio – a aposentada Cleuza Conceição da Silva.

Dona Cleuza descreveu, ao vivo, os momentos de pânico e medo pelos quais passou no dia dos Pais daquele ano. “Eu peço para que os pais fiquem atentos para evitar esta prática feita pelos adolescentes e muitas crianças. Quando fui atingida, caí da bicicleta e tive a linha enrolada no meu pescoço e cabelo. Não gosto nem de lembrar o que passei. Por pouco eu não morri”, alertou.

“Fiz esta reclamação para impedir isto e assim evitar que eles façam novas vítimas”, desabafou dona Cleusa, na época (Foto: Arquivo Rádio Caçula)

Poucos dias antes, no mesmo ano, o policial militar A.F.S. também se feriu enquanto trafegava na rua Otávio Sigefredo Roriz, no bairro Vila Nova. Nesse caso, especificamente, duas crianças, ambos com 14 anos, chegaram a ser encaminhadas à 1º Delegacia de Polícia Civil. A polícia apreendeu dois rolos com 60 e 200 metros de linha, ouviu as crianças que foram entregues aos seus respectivos responsáveis.

Antena corta pipas

O ano de 2024 começou com outra vítima quase fatal de cerol, desta vez, em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. A operária Patrícia da Silva Montenegro passou por cirurgia na Santa Casa de Campo Grande ao ter o pescoço cortado na Avenida Amaro de Castro Lima (veja vídeo), situada no Bairro Nova Campo Grande.

Depois disso, o Detran-MS voltou a alertar sobre a importância de se instalar, nas motos, um acessório conhecido como antena corta pipas.

Detran do MS faz campanha para implantação de antena corta pipas nas motos (Foto: Detran/MS)

O uso da dispositivo é obrigatório em motos utilizadas para atividades remuneradas, conforme estabelecido pelo artigo 139-A do Código de Trânsito Brasileiro e pela Resolução 943/2022 do Contran, que define requisitos mínimos de segurança para transporte remunerado de passageiros e cargas.

Embora o preço do acessório varie entre 30 e 80 reais, a maioria dos motociclistas hesitam em adquiri-lo devido à preocupação estética da moto.

Tristeza sem fim

Cátia foi sepultada no cemitério de Três Lagoas durante a tarde do último domingo, 28.01. Deixou órfão, o filho de 5 anos que viu sua mãe morrer da garupa da moto. Uma dor que, provavelmente, não será – minimamente confortada – com a punição dos culpados.

Nas redes sociais, sobressaiu a revolta da população de Três Lagoas com a prática, a tristeza e o pedido por mais fiscalização.

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