Política – 02/05/2012 – 06:05
Gravações da Polícia Federal mostram que o senador Demóstenes Torres (sem partido, ex-DEM) foi acionado pelo contraventor Carlinhos Cachoeira para fazer lobby no Ministério da Educação.
Em julho do ano passado, o senador diz a Cachoeira que procurou o ministro da Educação, que na época era Fernando Haddad (PT), e o secretário-executivo, José Paim Fernandes, para resolver as pendências da pasta. Na ocasião, o senador teria sido acionado para solucionar um impasse envolvendo um pedido de abertura de curso de medicina da Faculdade Padrão, de Goiânia.
O mantenedor da instituição, Walter Paulo Santiago, é ligado ao empresário. As informações são do jornal Folha de S. Paulo. “Doutor, tô aqui, com o professor Walter Paulo. Eles deram notícia lá do Ministério da Educação? Cê falou com o ministro?”, perguntou cachoeira. “Não deram notícia não. Cobrar hoje de novo. Eu até tinha pedido uma audiência pra ele (ministro) antes do casamento. Falei com o Paim, que é o secretário-executivo dele. Vou cobrar lá”, respondeu o senador.
No primeiro semestre de 2011, o ministério havia mantido o parecer que indeferiu o pedido da instituição para o funcionamento do curso de medicina, decisão que ainda não foi alterada.
O Ministério da Educação informou que não há “registros” de pedidos de audiência por parte do senador para tratar desse assunto. Carlinhos Cachoeira Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina.
O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão. Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais. Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna.
Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas. Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria.
O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
Fonte: Midiamax