Vanessa Ricarte ainda afirmou que a delegada da DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Eliane Benicasa teria sido “fria e seca”, chegando a se recusar a passar o histórico do assassino, o músico Caio Nascimento.
Após o segundo feminicídio registrado em 2025 — da jornalista três-lagoense Vanessa Ricarte, de 43 anos na última quarta-feira, 12, em Campo Grande, município distante aproximadamente 326 km de Três Lagoas, alguns áudios enviados por ela, antes de ser morta por seu ex-companheiro mostram que aconteceram diversos erros e falhas no atendimento na DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) antes de tudo acontecer.
Em um desses áudios divulgados em uma reportagem do SBT MS, enviados para uma amiga, Vanessa conta que esperava voltar para a casa que dividia com o assassino — o músico Caio Nascimento, escoltada pela Polícia, mas não teve nem mesmo qualquer informação sobre os antecedentes do autor, que teria até mesmo tentado matar a própria mãe. “Eu fui falar com a delegada e explicar toda a situação. Ela me tratou bem fria, seca, toda hora me cortava. Eu queria ver o histórico da pessoa e falou para mim que não podia passar”. A delegada que a vítima cita é Riccelly Maria Albuquerque Donhas, delegada em estado probatório da DEAM da capital.
Numa coletiva à imprensa, logo após o crime, Benicasa alegou que teria oferecido escolta à Vanessa, mas ela teria supostamente rejeitado, versão essa desmentida no áudio da vítima. A delegada ainda admitiu que teria “faltado agilidade”, colocando a culpa no Poder Judiciário. “Não foi falta de agilidade na prestação do serviço, mas precisamos aprimorar a agilidade, no que diz respeito a trâmites judiciais nas medidas protetivas”.
Ainda nos áudios, Vanessa diz que contou a Benicasa que estava já há dois dias sem tomar banho, e que teria sido orientada a mandar uma mensagem falando para que Caio deixasse a casa onde moravam, pedindo para que sua amiga fosse testemunha do caso. A jornalista ainda se preocupou com o atendimento da Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande, e de outras mulheres que podem também ser mal atendidas no local. “Estou me sentindo culpada, porque eu fui registrar o BO. Estou bem impactada com o atendimento da Casa da Mulher Brasileira. Eu, que tenho toda a instrução, escolaridade, fui tratada dessa maneira, imagina uma pessoa, uma mulher vulnerável lá. Essas que vão para a estatística do feminicídio”.
VANESSA FOI ASSASSINADA HORAS APÓS TER IDO À DELEGACIA
A jornalista e servidora pública foi morta por Caio Cesar do Nascimento Pereira na quarta-feira, 12, em uma residência no bairro São Francisco, em Campo Grande (MS). Ela foi esfaqueada por três vezes no tórax pelo feminicida, sendo socorrida e levada em estado gravíssimo à Santa Casa, porém não resistiu.
A vítima foi até a casa junto de um amigo para pegar seus pertences, onde ao chegar, foi ferida no peito pelo criminoso, que foi preso em flagrante na casa. Um vizinho tentou impedir o crime, mas ele teria partido para cima da testemunha, não conseguindo ter êxito pelo fato do portão estar fechado, segundo informações do Jornal Midiamax.
O corpo de Vanessa foi velado na Câmara Municipal de Campo Grande, onde na sexta-feira, 14, foi levado para sua terra natal, Três Lagoas, de onde outra cerimônia, dessa vez fechada para amigos e familiares, foi realizada na Capela Duílio. Por volta das 15h, a jornalista foi sepultada no Cemitério Santo Antônio.
Já Caio possui um vasto histórico de crimes, sendo cerca de 11 registros por violência doméstica, dos quais os primeiros casos foram registrados em 2020. Em um dos casos, o músico chegou a agredir uma ex-companheira, que teve queimaduras no rosto e nos braços. A vítima teria contado que ele seria usuário de drogas e seria muito agressivo, o que deixou a mesma em trauma.
Em outro caso, Caio perseguia outra ex, com quem conviveu por cerca de 11 anos, onde a vítima procurou a DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de Campo Grande para denunciar o mesmo por violência psicológica contra a mulher. Segundo ela, o músico não aceitava o fim do relacionamento, onde mesmo já com outra pessoa, queria saber de sua vida e até mesmo onde morava, chegando a agredi-la verbalmente e a acusando de ser “criminosa, péssima mãe, ser humano deplorável, doente e manipuladora”, ainda dizendo que ela “não imaginava o que lhe aguardava”.
DELEGACIA GERAL ABRE SINDICÂNCIA APÓS DIVULGAÇÃO DE ÁUDIOS.
O delegado-geral da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, Lupérsio Degerone Lúcio, em um vídeo ainda na tarde desta sexta-feira, 14, manifestou sua revolta com o fato e alegou que “a Polícia sempre estará ao lado da vítima”. O titular da DGPC também instaurou um inquérito para apurar possíveis falhas no atendimento de Vanessa.
Já a Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, em uma nota também divulgada nesta sexta, afirmou que enviou um ofício à Corregedoria da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, solicitando a abertura de um procedimento investigativo para apurar o atendimento dado à Vanessa, além das providências a serem tomadas pelo Ministério Público.
