Saúde – 09/01/2012 – 07:01
No meio da noite, os pais acordam com um chamado de socorro do filho: o bicho-papão apareceu no quarto! Claro que a criatura assustadora era apenas a combinação de uma cabecinha fantasiosa com a sombra de uma árvore na janela, mas você sabe como ajudar as crianças a superar seus medos?
Segundo Lilian Lerner Castro, psicóloga do Projeto de Ansiedade da Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas de São Paulo, classificar os medos da criança como “besteira” é o primeiro erro. “Se o sentimento da criança for validado, ela aprenderá ao longo do tempo a falar que está com medo disso e daquilo. É mais fácil lidar com os medos desta forma do que dizer que são bobagens”, afirma.
Porém, não é só na hora do medo que os pais devem dar atenção aos sentimentos infantis. De acordo com a psicóloga Bel Linares, autora de livros como “E agora? Vão tomar meu lugar?” e “Hospital não é mole!” (Editora Salamandra), se os pais não dão bola quando ela diz estar feliz, mas dão todo o carinho do mundo quando expressa medo, a criança percebe a diferença e passa a usar a palavra “medo” para ganhar atenção.
Descubra abaixo as dicas de quatro especialistas sobre o que fazer em diferentes situações de medo infantil.
Seu filho tem medo do mar?
As crianças têm medo do movimento e do barulho das ondas e se sentem inseguras no ambiente. Bel Linares sugere aos pais passar segurança e ir criando coragem junto com elas. Aos poucos, se aproxime do mar, chegue à beirinha da água e mostre a ela que não há o que ser temido. Respeite limites: se ela se recusa a entrar na água, proponha fazer castelos na areia. Assim ela se aproxima do que dá medo e começa a superá-lo.
Seu filho tem medo do escuro?
Segundo Beatriz Sant’Anna, neuropsicóloga do NANI (Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil), em São Paulo, os pais devem acostumar a criança a dormir no escuro ou na penumbra desde pequenininha – assim, as chances de ela ter medo nos primeiros anos diminuem. Se o medo chegar, vale apostar em um abajur aceso durante a noite ou em um filete de luz entrando pela porta – mas sempre se lembrando de diminuir gradualmente a iluminação.
Paula Pessoa Carvalho, psicóloga especializada em comportamento infantil, recomenda aos pais não associarem o escuro a figuras ruins, como bichos e monstros. Esta ideia deve ser desconstruída. E, para desmistificar de vez a escuridão, Bel dá a dica: brinque no escuro com seus filhos, projetando sombras com lanternas, por exemplo.
Quando a criança não quer dormir sozinha, vale investigar se é medo mesmo ou apenas um pedido de atenção
Seu filho tem medo de dormir sozinho?
De acordo com Beatriz Sant’Anna, querer dormir com os pais é, muitas vezes, uma maneira de buscar atenção, e não necessariamente medo. Observe se esse suposto medo da criança acontece em ocasiões específicas – como depois de ver um filme que a assustou – ou é frequente. “Se for algo rotineiro, é importante investigar o significado do comportamento e não deixar o hábito se instalar”, diz.
Para evitar que isso aconteça, Paula Pessoa Carvalho indica o uso de um método regrado, estabelecendo uma rotina para que a criança fique com sono sempre no mesmo horário e siga rituais na hora de dormir, incluindo estar em seu próprio quarto.
Seu filho tem medo de palhaço?
O medo é comum entre dois e três anos. Uma boa forma de combatê-lo é mostrar que o palhaço é um personagem e, debaixo da maquiagem e das roupas, há uma pessoa normal. Bel indica aos pais pintar as crianças e a si mesmos de palhaço, para ela entender este processo. Lilian Lerner Castro também comenta que os pais podem construir juntos máscaras e personagens diversos. Para interlocutores desta idade, o ato é mais efetivo do que uma explicação usando palavras.
Quando o medo é causado pela imaginação, pais podem embarcar na fantasia para trazer a criança à realidade
Seu filho tem medo de monstros e outras criaturas fantásticas?
Este medo pode vir junto com o medo do escuro e costuma ser mais comum entre crianças de três a cinco anos. “As crianças desta faixa etária confundem fantasia com realidade”, afirma Lilian. Nesta hora, os pais não devem nunca desvalorizar o que a criança está sentindo. É melhor entrar na fantasia e usar a imaginação, trazendo a criança à realidade.
Quando pequeno, o filho da autora Bel Linares tinha medo de um monstro. A criatura morava debaixo da cama e, quando procurada, ficava invisível. “Nós inventamos um ‘spray para fazer monstros invisíveis aparecerem’ e usamos ao longo dos dias, até ele perceber que o monstro não existia”, relembra.
Seu filho tem medo de sair do lado da mãe?
Para crianças bem pequenas, esse medo é comum: estar próximo a pessoas do próprio convívio as deixa mais seguras. O esperado, no entanto, é que ela comece a criar coragem à medida que vai crescendo. Se a criança for muito tímida ou estiver sendo superprotegida pelos pais, possivelmente ela terá maiores dificuldades.
Paula Pessoa Carvalho indica aos pais incentivar os pequenos com segurança. Diga que vai se afastar para ir à cozinha, por exemplo, e que volta em dois minutos – sempre respeitando o período determinado. A criança começará a confiar no retorno dos pais e, assim, se sentirá mais tranquila.
Em situações sociais, como um passeio ao parquinho, o ideal é o adulto permanecer no campo de visão infantil, mas dando espaço para a criança brincar com outras. “Os pais devem ajudá-la a se socializar”, diz Lilian Lerner Castro.
Seu filho tem medo de ir à escola (e de ser esquecido lá)?
Os pais devem contar qual será a rotina vivida naquele novo ambiente: o que irá acontecer ao longo do dia e, inclusive, quem irá buscá-la. É importante chegar sempre na hora esperada pela criança, principalmente se ela estiver preocupada em ser esquecida ali.
Beatriz Sant’Anna alerta: se a criança já está indo à escola há um tempo e apresenta o medo de uma hora para outra, deve-se investigar se houve algum incidente que justifique o comportamento.
Seu filho tem medo de ir ao médico?
Geralmente relacionado a experiências negativas, o medo de ir ao médico é comum. De acordo com Bel Linares, brincadeiras ajudam a superá-lo. “Dar um estetoscópio de brinquedo ou uma caixinha de termômetro vazia, por exemplo, ajuda a criança a elaborar os medos dentro de casa, até aprender como lidar”, diz. Com crianças um pouco maiores, vale conversar. Beatriz Sant’Anna recomenda aos pais explicar a necessidade da visita ao médico e reafirmar que estarão ao lado dela o tempo todo.
Fonte: IG