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Três Lagoas
terça-feira, 22 de outubro, 2024

Investimentos de R$ 12 bilhões transformam a cidade

Política – 04/04/2012 – 15:04

Cidade sul-mato-grossense de 100 mil habitantes caminha para ser polo mundial de celulose e fertilizantes

Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, é uma cidade que ainda esconde sua riqueza sob uma aura interiorana. No xadrez formado por ruas longas e planas, predominam motos e bicicletas. Seus pouco mais de 100 mil habitantes têm como um dos principais pontos de referência na cidade uma estátua de Cristo, que parece controlar o trânsito no entroncamento de duas das principais avenidas. E o sinal mais expressivo de modernidade são TVs de LCD no Empório da Lagoa, bar da moda onde forasteiros e endinheirados locais se reúnem para beber e assistir rodadas de futebol.

Mas é também neste enclave urbano, às margens do Rio Paraná, que gigantes como Petrobras, Votorantim, Fibria e Eldorado, estão investindo mais de R$ 12 bilhões em projetos de celulose, fertilizantes e siderurgia – o equivalente á metade do orçamento da Copa do mundo no Brasil –, e arrastando consigo centenas de fornecedores.

Só no ano passado, de acordo com a prefeitura local, foram abertas mais de mil micro empresas pelo regime tributário do Simples. Restaurantes acostumados a atender algumas dezenas de mesas, se transformaram em cozinhas industriais que hoje entregam até 3 mil refeições por dia em canteiros de obras e grandes indústrias. Na área de transportes, o número de empresas saltou de três para mais de 30, desde 2005 – como o transporte público é insipiente, a maior parte das empresas banca o transporte dos funcionários de pontos no centro até as fábricas.

E além das indústrias de celulose, aço e fertilizantes, há ainda outras 57, de médio e grande porte, que se estabeleceram em Três Lagoas em anos recentes, e fabricam de tecidos e calçados infantis a cabos de energia e de fibra-ótica, de refrigeradores para uso em pontos de venda a embalagens.

Receita

O que torna Três Lagoas diferente de outras cidades de porte semelhante é uma combinação rara de fatores. O principal deles talvez seja a abundância de áreas disponíveis para o plantio de eucalipto, associada a características geoclimáticas favoráveis ao seu crescimento.

O eucalipto é uma das principais variedades usadas na produção de papel e celulose, e a velocidade em que cresce pesa na competitividade da indústria de celulose. Na região de Três Lagoas, ela é das mais rápidas do mundo, com árvores alcançando idade de corte em seis a sete anos. É o que atraí as grandes indústrias do setor para a região e faz com que ela seja forte candidata se tornar o principal polo da indústria florestal no país.

Não bastasse isso, a cidade é servida ainda por estrada de trem e está à beira de uma das principais hidrovias do país, a Paraná Tietê. Fica ao lado do estado de São Paulo, maior mercado consumidor do país, mas se beneficia de incentivos fiscais generosos à indústria, concedidos pelo governo do estado do Mato Grosso do Sul. Recebe gás do gasoduto Bolívia-Brasil e abriga uma usina hidrelétrica e uma termoelétrica.

Distorções

Tanto dinheiro, concentrado no espaço e no tempo, porém, tem causado também distorções que o poder público da cidade e seus habitantes, aos poucos, vão descobrindo difíceis de corrigir. Se por um lado alimentam a receita do crescente número de restaurantes e opções de lazer de Três Lagoas, engenheiros, executivos e trabalhadores que chegam aos milhares inflacionam preços e sobrecarregam serviços públicos.

O empresário Paulo Kiyomi Ishibashi é um exemplo de quem vive o melhor e o pior dessa transformação econômica vertiginosa. No ano passado, voltou com mulher e três filhos de uma temporada de 15 anos no Japão. Comprou do irmão o restaurante Yaki Niku, à beira da maior das lagoas de Três Lagoas. Desde outubro, tem a casa cheia. Mas a falta de mão de obra especializada, por causa da alta demanda local, já fez com que tivesse que dobrar o salário dos funcionários para retê-los. “A cidade tem muito trabalho e poucos trabalhadores”, afirma Ishibashi.

Mas nem todo mundo tem a mesma sorte dos funcionários do Yaki Niku. “O aluguel de casas, no centro, triplicou”, diz a vendedora Fabiana Gomes. “Donos de imóveis que pediam R$ 300, hoje cobram R$ 900. Em uma cidade onde a indústria paga pouco mais que o salário mínimo, é muito”.

Uma passada de olho nos classificados de qualquer um dos quatro jornais locais basta para confirmar o que diz Fabiana. Mais que isso, sugere que os preços estimados por ela estão até defasados. Os raros apartamentos disponíveis na cidade não saem por menos de R$ 1,2 mil. Há quitinetes a partir de R$ 700. E casas de padrão mais alto chegam aos R$ 7 mil.

A pressão sobre os preços colocou a especulação imobiliária na alça de mira da prefeitura local. Segundo a prefeita Márcia Moura, estão sendo construídas 2 mil moradias para famílias com renda de até três salários mínimos. As primeiras 1,2 mil deverão ser entregues ainda neste ano. Mas a prefeitura continua atrás de parceria para ampliar o número de imóveis para famílias com renda de até três salários e de quatro a oito salários, diz.

Um projeto de revisão do plano diretor também está em fase final de discussão. Entre as mudanças previstas está a expansão da área considerada centro e, consequentemente, do número de imóveis potencialmente destinados ao comércio. A cobrança de IPTU progressivo para terrenos ociosos, de estacionamento em vias públicas e os incentivos a construção de garagens em novas edificações também estão em pauta. A pretensão do governo é apresentar aos vereadores até abril.

Comércio em sinuca

O custo do aluguel é, de fato, um dos problemas que aflige o comércio local, e sobre o qual a prefeitura tem controle limitado. Dedicada ao varejo há 14 anos, os quatro últimos como proprietária da Gleice Fashion, Gleice Simone Nunes diz que a chegada de indústrias e trabalhadores à cidade não gerou aumento de vendas. Ainda assim, o proprietário do imóvel que ela ocupa reajustou o aluguel de R$ 1,8 mil para R$ 2,5 mil.

O baixo impacto da expansão econômica de Três Lagoas sobre segmentos do comércio, como o varejo de roupas e calçados, é explicado por outro lojista. Luciano Carvalho, da Chinelo Mania, revendedora de calçados da Alpargatas, diz que como o ICMS para o comércio no Mato Grosso do Sul é mais alto que em São Paulo, quem tem um pouco mais de dinheiro atravessa a fronteira e vai fazer compras em cidades de São Paulo, como Andradina ou Araçatuba, distante aproximadamente 150 quilômetros. “De cara, a diferença chega a 10%”, afirma o empresário.

É a mão que tira do comércio e dos serviços para dar incentivos fiscais e atrair à indústria. Para contornar o problema, é comum empresas terem registro de CNPJ em cidades paulistas, para a compra de mercadorias, ou a venda por baixo dos panos, para burlar a cobrança do ICMS, de 17%.

Procuram-se médicos

Na área da saúde, o principal problema não é a falta de dinheiro ou de infraestrutura. É de médicos. Foram criadas clínicas especiais para o atendimento de idosos, mulheres e crianças. A prefeitura diz que investe 25% do orçamento em saúde, bem acima dos 15% mínimos. Mas há postos de saúde que ainda não funcionam por falta de profissionais.

Segundo Marco Garcia de Souza, secretário de desenvolvimento da cidade, Três Lagoas dobrou o salário base para atrair profissionais da área. Saiu de cerca de R$ 5 mil para R$ 10 mil mensais, por 40 horas de atendimento semanal e carteira assinada. Plantonistas de unidades de pronto atendimento, as UPAs, recebem agora R$ 900 por plantão. A resposta, porém, foi um aumento de candidatos muito inferior, em termos proporcionais, ao reajuste salarial. Em parte, opina Souza, porque o custo de vida na cidade assusta quando comparado ao de centros maiores.

A rede pública sofre. E também sofre a rede privada. O que, na prática, significa que pagar um plano de saúde nem sempre evita o desgaste da espera por consultas em Três Lagoas. De acordo com Jurandir Bertalli, gerente da Unimed local, a cidade ainda não tem profissionais de especialidades como endocrinologia, reumatologia e psiquiatria, e são raros os de outras, como otorrinolaringologia. “Em alguns casos, é preciso esperar três ou quatro meses para fazer uma consulta”, afirma.

Sócia de um dos dois hospitais da cidade, mesmo a Unimed vê seu quadro de profissionais perder o passo em relação ao ritmo de crescimento da cidade. Nos últimos três anos, calcula Bertalli, a cooperativa passou de 140 para 150 médicos, um aumento de 8% a 10%. É pouco, se levado em conta que a maioria dos profissionais faz parte da cooperativa, diz. Fora, há no máximo 30 profissionais: “a cidade está carente de médicos”.

A prefeitura tem planos de resolver o problema, no médio prazo, com a construção de um novo hospital universitário. A obra, prevista para começar até o final do ano, com entrega prevista para 2014, abriria caminho para a criação em Três Lagoas de uma faculdade de medicina. Mas Bertalli, da Unimed, vê com ressalvas a estratégia. “Não adianta ter a estrutura se não tiver quem operá-la”, avalia. “Vai ser preciso trazer muitos médicos. E a gente sabe que atraí-los não é bem assim”, diz.

Enquanto a questão do número de médicos não é atendida, a cidade vai lidando com o que tem ao alcance para reduzir a pressão sobre o sistema de saúde. Em 2007, Três Lagoas enfrentou uma epidemia de dengue, com mais de 3,5 mil casos confirmados, em parte por causa da prática local de queimar lixo no quinta de casa. Até o dia da queima, o entulho acumulava água e facilitava a proliferação do mosquito transmissor. Para evitar o problema, diz Souza, da Secretaria de Desenvolvimento, foram iniciadas campanhas em escolas, programas de dedetização em casas e expandido o sistema de coleta de lixo e varrição de ruas.

O alinhamento político da prefeita Márcia Moura (PMDB) com o governo estadual, do mesmo partido, também levou à aceleração de investimentos em saneamento em Três Lagoas. No ano passado, a companhia estadual de saneamento, Sanesul, assinou a renovação do contrato com a cidade, por 30 anos. A expectativa é de que o índice de tratamento de esgoto em Três Lagoas, que em 2005 era de 15%, chegue a 97%, em 2014.

Pé no barro

Mais difícil, porém, tem sido acabar com o passivo de ruas sem asfalto. Novos loteamentos só são aprovados com toda a infraestrutura instalada. Mas, mesmo com isso, e com o aumento da arrecadação municipal, de cerca de R$ 80 milhões, em meados da década passada, para os R$ 280 milhões previstos neste ano, Getúlio Neves da Costa Dias, secretário de obras, estima que Três Lagoas ainda vai levar uns dez anos para asfaltar todas as ruas.

Hoje, 40% delas ainda são de barro. O que pesa, explica Dias, não é o custo do calçamento, em si. Mas o da drenagem. Como a cidade é plana, as galerias têm que ser mais largas para comportar a água que entra pelos bueiros. O gasto por quilômetro, com isso, chega a ser quatro vezes maior.

São mudanças lentas, como as implantadas por João Batista Gonçalves no pequeno hotel que administra com a mulher. Com pouco dinheiro, levou doze anos para concluí-lo. Mas, agora, aproveita a bonança. “Essa cidade, rapaz, ainda vai virar uma cidade”, diverte-se o baiano.

Fonte: IG / Divulgação

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