Policial – 15/02/2012 – 18:02
Lindemberg Alves Fernandes, acusado de matar Eloá Pimentel em outubro de 2008, confessou que disparou contra a ex-namorada e pediu perdão à família da vítima durante seu depoimento, que ocorre desde as 14h15 desta quarta-feira no Fórum de Santo André.
“Quero pedir perdão para a mãe dela (Eloá) em público, pois eu entendo a sua dor”, disse. “Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei. Foi tudo muito rápido”, explicou.
Quando questionado sobre Nayara Rodrigues, amiga da vítima, o acusado diz não se lembrar. “Não posso dizer se atirei ou não na Nayara. Eu não me lembro.”
O testemunho de Lindemberg foi o mais esperado do dia, já que esta é a primeira vez que ele se pronuncia sobre o crime. A última vez que o réu falou sobre o assunto foi em seu depoimento para o inquérito da Polícia Civil, no qual aparece nu, algemado e visivelmente machucado. Mais cedo, a advogada Ana Lúcia Assad já havia confirmado que o acusado falaria aos jurados. Acompanhada pelo marido, uma das irmãs de Lindemberg, Francimar Fernandes está presente no tribunal e acompanha a fala do réu.
Confira abaixo os trechos mais importantes do depoimento de Lindemberg.
Motivação – Lindemberg alega que o sequestro começou quando ele chegou no apartamento de Eloá e a encontrou acompanhada de Nayara e os outros dois meninos.
Segundo ele, a ex-namorada se atrapalhou ao explicar a presença de Victor Lopes de Campos, uma vez que sabia que Iago Vilela de Oliveira era namorado de Nayara.
Ele ficou furioso porque eles haviam reatado o namoro no sábado anterior ao sequestro e haviam prometido que contariam um para o outro tudo que acontecesse na vida deles.
Ao pressionar Victor, o menino admitiu ter beijado Eloá, que continuou negando o ocorrido. Foi neste momento que Lindemberg mostrou que estava armado. “Infelizmente, doutora, trair hoje é normal, mas eu não sou um cara que admite traição.”
Arma – O acusado contou que adquiriu a arma de um senhor que estava vendendo todos os pertences no Parque da Juventude, em Santo André, para poder voltar para sua terra natal. Entre os itens oferecidos estavam o revólver e a munição.
Lindemberg explicou que comprou o artefato, pois ele já havia recebido três ameaças de morte vinte dias antes do sequestro começar. A partir de então, ele passou a andar armado o tempo todo. “Eu não tinha inimigos e não tinha arrumado briga com ninguém. Não sei quem poderia ter feito isso, mas fiquei com medo.”
Cárcere – O réu deixou claro em seu depoimento que sempre permitiu a saída de Nayara, Victor e Iago, mas fazia questão da presença de Eloá.
Os amigos se recusaram a deixar Eloá sozinha com Lindemberg e a decisão de voltar ao apartamento partiu de Nayara, pois ela gostaria que todos saíssem daquela situação juntos.
Ele contou que a ex-namorada o lembrou do sequestro ocorrido no Rio de Janeiro com o ônibus 174, e que ao mesmo tempo que ele não confiava na polícia, ela também tinha medo de morrer e não desejava deixar o apartamento.
Agressões – O acusado nega que tenha agredido Eloá durante o tempo que permaneceu com ela no cárcere. Segundo ele, ela gritava e chorava sem que ele tivesse feito alguma coisa. Ele afirma que o único momento em que “encostou a mão” nela foi quando, ao mostrar o revólver, Eloá tentou agarrá-lo e com medo de que ela o desarmasse, a empurrou no sofá.
Família de Eloá – Lindemberg contou que sempre teve uma boa relação com a família de Eloá, exceto com o irmão mais velho, Ronickson Pimentel dos Santos.
Ele afirmou que confiava em Everton, irmão caçula da vítima, e por isso só aceitou negociar com ele. “Confiava muito mais nele do que na polícia.”
Durante o depoimento, todas as vezes que o acusado toca no assunto, sua voz fica embargada. Ele faz questão de chamar a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel da Silva, de Dona Tina.
Os disparos – De acordo com o réu, ele, Nayara e Eloá estavam prontos para sair do apartamento pouco antes da invasão da polícia. A intenção, segundo Lindemberg, era sair sem avisar ninguém, pois ele temia por sua vida.
Quando houve a explosão na porta, Eloá fez menção de levantar e, “sem pensar”, ele disparou a arma. “Depois que atirei na Eloá fiquei meio atordoado. Quando me recuperei já estava no chão sendo agredido pelos policiais”, completou.
Julgamento – Ainda hoje foi ouvido o depoimento da última testemunha de defesa, Paulo Sérgio Squiavano, membro do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e que participou da operação na época do ocorrido. A oitiva durou quase duas horas.
Este é o terceiro e provavelmente o último dia de julgamento de Lindemberg, acusado de matar Eloá em outubro de 2008, após mantê-la refém por cerca de 100 horas dentro do apartamento da vítima, em Santo André. Um júri formado por seis homens e uma mulher decidirá se o réu é ou não culpado pelos crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio, cárcere privado e disparo de arma de fogo.
Fonte: Diário OnLine