Saúde – 08/02/2013 – 09:02
Oito em cada dez reclamações registradas no Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) sobre cirurgias plásticas referem-se a problemas com empresas de intermediação. A informação é do diretor-geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Carlos Alberto Komatsu. Dessas reclamações, a maior parte é por problemas cirúrgicos ou mau resultado da operação. A prática, condenada pelo órgão, é o ato de vender a cirurgia e contratar um médico ou uma terceira empresa para realizar a plástica.
A morte da diarista Maria Gilessi Pereira Silva, de 41 anos, duas horas após implantar silicone nos seios, na terça-feira, foi intermediada e é mais um sinal de que esse sistema não é a melhor opção. A Pró-Corpo Assessoria Administrativa em Cirurgia Plástica, intermediadora, alega em sua defesa que sua responsabilidade é apenas a parte financeira. O médico que realizou a cirurgia trabalha para a clínica MWells, que tem atividade ambulatorial. Procuradas nesta , nenhuma das empresas se manifestou.
Segundo Komatsu , justamente pelo fato de as intermediações apresentarem uma série de problemas, o Conselho Federal de Medicina tem uma resolução que proíbe esse tipo de prática. “Se você clicar no site de qualquer clínica idônea, há o corpo clínico, o médico responsável. No caso da intermediadora, você não vai achar o nome de uma pessoa”, diz o cirurgião. “O que menos importa é o nome do médico nas intermediadoras. Se você for pensar, a rigor, uma empresa como essa quer vender. E não importa em que situação. Isso é incorreto ética e legalmente.”
O diretor-geral também explica que o número de intermediadoras cresceu muito, pois, além de a procura por plásticas ter aumentado, esse procedimento cirúrgico não é coberto pelos planos de saúde. “As intermediadoras estão atrás de filões para os quais não existe cobertura. Por exemplo, a reprodução assistida e cirurgia de miopia, cirurgia bariátrica. Eles fazem esses planos atrás de dinheiro fácil.”
Indenização/ Segundo Rodrigo Giordano de Castro, advogado especialista em direito civil, a família pode pleitear na Justiça indenização por danos morais e até materiais, se comprovado que a mãe contribuía para o sustento da família. “A responsabilidade do médico nos casos de cirurgia plástica é objetiva, já que ele promete um resultado. É diferente dos casos de cirurgia de emergência ou de saúde. Nesses casos, a responsabilidade é subjetiva, já que o resultado da cirurgia vai depender da causa médica”, explica.
Corpo de Maria Gilessi é enterrado em Embu das Artes
O corpo da diarista Maria Gilessi Pereira Silva, de 41 anos, foi enterrado nesta quinta-feira, por volta das 10h, no Cemitério Jardim da Paz, em Embu das Artes, na Grande São Paulo. Ela morreu às 19h30 de terça-feira, duas horas depois de fazer uma cirurgia para colocar prótese de silicone nos seios, no Hospital Salt Lake, em Pinheiros (Zona Oeste).
A família registrou um boletim de ocorrência e o corpo foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal). O laudo que vai apontar as causas da morte deve ficar pronto em 30 dias. O delegado Olívio Lira, do 14 DP, vai ouvir os familiares da diarista nesta sexta-feira à tarde. A equipe médica e os responsáveis pela Pró-Corpo e pelo Salt Lake também serão ouvidos.
A família da diarista pretende entrar na Justiça. “Queremos buscar nossos direitos, mas ainda não conseguimos um advogado que nos ajude. Nós não temos condições financeiras para pagar um advogado”, disse nesta quinta Danilo Pereira Reis, de 21 anos, um dos filhos de Maria Gilessi.
Entrevista
José Horácio Aboudib
Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
‘Desconfie da cirurgia que custa menos de R$ 13 mil’
DIÁRIO_ É preciso ficar atento quando uma cirurgia plástica tem preço muito baixo?
JOSÉ HORÁCIO ABOUDIB_ Sim. É o que chamamos de preço vil, algo praticamente inviável.
Para uma cirurgia de implante de silicone, qual o preço mínimo?
O paciente deve suspeitar se oferecerem algo multo abaixo de R$ 13 mil. Só uma prótese de silicone de boa qualidade custa R$ 2 mil. Então, numa cirurgia como a deste caso (Maria Gilessi pagou R$ 5,5 mil), para todo o resto, só restariam R$ 3,5 mil. E não há como contratar uma equipe exigida para um procedimento como esse: é preciso, além do cirurgião, de um anestesista, um auxiliar de enfermagem, além da locação de um centro cirúrgico. Ainda há os 20% de impostos com a emissão da nota fiscal.
E quais as recomendações para quem vai procurar um local para fazer a plástica?
Em primeiro lugar a pessoa precisa verificar se o médico é credenciado à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Em seguida, seria bom procurar referências dele vindas de outros profissionais da área. Também é aconselhável procurar uma clínica renomada. Afinal, você só vê casos como esse ocorrendo quando a pessoa procura algo muito barato. O paciente que só olha o preço tem um percentual de culpa. O que se tem de pensar primeiro é na saúde. Não se pode brincar com isso.
Manicure morre depois de lipoaspiração
A manicure Nayara Patracão, de 24 anos, teve a morte confirmada nesta quinta pela Casa de Saúde São Carlos. Ela estava internada havia um mês, em coma, após sofrer uma parada cardiorrespiratória durante uma lipoaspiração. Segundo o cirurgião plástico Vicente de Paula Ciarrochi Júnior, Nayara teve um mal súbito. Ela deixa um bebê de 9 meses e uma menina de 4 anos.
Covisa faz vistoria na clínica M.Wells
A Secretaria Municipal da Saúde fez uma vistoria nesta quinta no local onde funcionam a clínica Pró-Corpo e a M.Wells Serviços Médicos Ltda. Segundo a secretaria, as duas empresas funcionam no mesmo endereço, mas apenas a M.Wells está sujeita à fiscalização da Covisa (Coordenação de Vigilância em Saúde) e não foram encontradas irregularidades sanitárias.
Fonte: Portal Terra