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quinta-feira, 9 de janeiro, 2025

Salário mínimo no Brasil aumenta, mas poder de compra continua estagnado

Em 2025, o salário mínimo no Brasil foi reajustado para R$ 1.518,00, um aumento de R$ 106 em relação ao ano anterior, representando um reajuste de 7,5%. No entanto, com a alta do dólar e a previsão de aumento contínuo dos preços dos alimentos, o poder de compra dos brasileiros em relação à cesta básica não deve melhorar, segundo um estudo da consultoria LCA 4intelligence.

O cenário não deve mudar em 2026, com o poder de compra dos brasileiros permanecendo estagnado e abaixo do nível pré-pandemia. Esse fator contribui para o descontentamento dos brasileiros com a economia, mesmo com o desemprego em níveis historicamente baixos e a renda em alta, apontam analistas.

Na terça-feira do dia 31/12, uma pesquisa Datafolha revelou que 61% dos brasileiros acreditam que a economia do país está no caminho errado, enquanto 32% consideram a trajetória econômica positiva e 6% não souberam responder. Esse quadro também representa um desafio para o projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026, em um cenário inflacionário que tem prejudicado outros líderes nas urnas em países como Estados Unidos, Reino Unido, Coreia do Sul, Portugal e Uruguai.

Procurado para comentar a tendência de estagnação do poder de compra mostrada pelo estudo, o Ministério da Fazenda não respondeu até a publicação desta reportagem.

Estudo revela queda no poder de compra

Para realizar o estudo, o economista Bruno Imaizumi, da LCA 4intelligence, utilizou a série histórica do valor da cesta básica na cidade de São Paulo, produzida pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e o salário mínimo vigente. Ele projetou as duas séries à frente, com base na estimativa da LCA para a inflação de alimentos em domicílio em 2025 e 2026 e para o reajuste do salário mínimo segundo a nova regra.

Desde 2023, o salário mínimo é corrigido pela soma da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 12 meses até novembro e do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores. A diferença é que agora há um teto de reajuste de 2,5% acima da inflação, para adequar o crescimento do salário mínimo aos limites de gastos públicos definidos pelo novo arcabouço fiscal.

Impactos da pandemia e da guerra na Ucrânia

Desde 1998, início da série histórica da cesta básica do Dieese em São Paulo, até 2010, houve um ganho no poder de compra do brasileiro, passando de pouco mais de uma cesta básica por salário mínimo para 2,2 cestas básicas em janeiro de 2010. Entre 2010 e 2019, o salário mínimo comprou em média 2,1 cestas básicas.

“O estudo mostra que perdemos poder de compra a partir de 2020, com a pandemia e o aumento dos preços dos alimentos”, observa Imaizumi. A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 2022, também impactou fortemente o preço global dos grãos, além de eventos climáticos extremos que reduziram a oferta de alimentos, elevando os preços mundialmente.

Com isso, o poder de compra do salário mínimo caiu para 1,5 cesta básica em abril de 2022. Desde então, houve uma leve recuperação para 1,7 em novembro de 2024, mas sem retomar o nível anterior à pandemia.

Perspectivas para o futuro

“Os níveis de preços permaneceram muito elevados e, olhando para as nossas projeções, não há uma recuperação nos próximos dois anos”, diz Imaizumi. “Não voltaremos aos patamares pré-pandemia, então o brasileiro ainda se sente lesado.”

Mesmo considerando a regra antiga de cálculo de reajuste do salário mínimo, o cenário pouco mudaria. “O que pode ajudar na recuperação do poder de compra é uma valorização do real”, avalia o economista. Para isso, o governo precisará mostrar compromisso com o ajuste fiscal, pois a trajetória das contas públicas brasileiras no médio e longo prazo é preocupante, afetando expectativas de investimento, consumo e crescimento a longo prazo do país.

Inflação de alimentos e efeito pêndulo

Em 2024, a inflação de alimentos ficou bem acima da inflação geral medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), devido a eventos climáticos extremos que afetaram as safras no Brasil e em outros grandes países produtores de commodities agrícolas. Para 2025 e 2026, Imaizumi espera que IPCA e a inflação de alimentos tenham variações mais próximas, mas os preços dos alimentos continuarão elevados.

A permanência dos preços em patamar elevado após a pandemia pode estar levando ao “efeito pêndulo”, onde a oposição tende a vencer eleições recentes pelo mundo. Creomar de Souza, cientista político e diretor-executivo da consultoria de risco político Dharma Politics, avalia que, se as projeções de estagnação do poder de compra se confirmarem, Lula pode enfrentar dificuldades nas eleições de 2026.

“O grande desafio da administração Lula é convencer as pessoas de que a economia está funcionando”, diz Souza. “O desemprego está diminuindo, os salários estão aumentando, mas as pessoas não estão sentindo isso no mercado.”

Souza ressalta que a economia não é o único fator que explica a avaliação negativa do governo Lula. O país segue profundamente fraturado politicamente, e uma parcela importante da sociedade que não gosta do Lula continuará não gostando, mesmo com melhorias econômicas.

Diante desse dilema, o governo tem dois caminhos possíveis: resolver o desafio fiscal que gera uma crise de confiança nos mercados ou acelerar os gastos no fim do mandato visando a reeleição. “O dilema para o governo Lula é frear as expectativas negativas, sendo mais homogêneo e tendo sinalizações claras sobre o que quer fazer”, conclui Souza.

Com informações BBC NEWS Brasil

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