Nesta segunda-feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o indulto natalino de 2024, publicado em edição extra do Diário Oficial da União. O decreto prioriza o perdão da pena para pessoas condenadas pertencentes a grupos em situação de vulnerabilidade, como idosos, gestantes, pessoas com deficiência ou doenças graves. No entanto, a medida reacende o debate sobre a relação entre a concessão de indultos e a criminalidade no país.
Entre os beneficiados estão gestantes com gravidez de alto risco, mães e avós condenadas por crimes sem violência ou grave ameaça que comprovem ser indispensáveis para o cuidado de crianças de até 12 anos. Também entram no critério presos com transtorno do espectro autista severo e pessoas paraplégicas, tetraplégicas ou cegas.
O decreto exclui explicitamente condenados por crimes graves, como os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, tortura, terrorismo, racismo, violência contra mulheres, crianças e adolescentes, e integrantes de facções criminosas.
Embora o indulto seja um instrumento previsto na Constituição e revisto anualmente, críticas surgem de setores que questionam sua eficácia e impacto sobre a segurança pública. O argumento central é se a concessão do perdão judicial poderia contribuir para reforçar uma sensação de impunidade, especialmente em um cenário de criminalidade elevada no Brasil.
Um ato humanitário ou um risco à sociedade?
Para o governo, o indulto natalino é um gesto de humanidade, alinhado com o propósito de atender casos excepcionais de vulnerabilidade. As regras do decreto foram elaboradas pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, com o aval do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
Por outro lado, críticos apontam que a prática, embora criteriosa, pode gerar insegurança jurídica e reforçar o discurso de leniência com o sistema prisional. Especialistas em segurança pública destacam que a medida, mesmo excluindo criminosos reincidentes ou de alta periculosidade, ainda levanta dúvidas sobre seu impacto na confiança da população em relação ao sistema de justiça.
Impacto na criminalidade
O Brasil enfrenta uma das maiores populações carcerárias do mundo, com mais de 800 mil presos, segundo dados do CNJ. O indulto, embora aplicado em situações limitadas, é frequentemente visto como um paliativo diante de problemas estruturais no sistema prisional, como superlotação e falta de condições dignas.
Ainda assim, há questionamentos sobre se a reinserção de determinados grupos de condenados na sociedade é acompanhada de medidas eficazes de ressocialização, evitando o retorno ao crime.
A tradição e o futuro do indulto
O indulto natalino é uma tradição que se repete em praticamente todos os governos democráticos, mas os critérios e os grupos beneficiados variam conforme a política criminal adotada pela gestão. A edição de 2024, ao priorizar grupos vulneráveis, reflete o discurso de Lula de governar com foco nos mais necessitados.
No entanto, a questão permanece: até que ponto o indulto contribui para a redução de desigualdades e promove a justiça social, sem abrir margens para interpretações que poderiam afetar a credibilidade do sistema penal? Este será, sem dúvida, um tema de debate que continuará a dividir opiniões.