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Investigado pela PF planejava trocar pareceres por apoio eleitoral

Política – 03/12/2012 – 08:12

Paulo Vieira, apontado como chefe da organização desarticulada pela Operação Porto Seguro, pretendia se candidatar a deputado federal pelo PT. Informações reproduzidas nos relatórios de inteligência da Polícia Federal indicam que a campanha seria financiada por empresas favorecidas pelo esquema de compra de pareceres técnicos de órgãos públicos.

Diretor afastado da Agência Nacional de Águas (ANA), Vieira declarou a intenção de disputar uma vaga na Câmara a pelo menos quatro pessoas que tiveram diálogos grampeados pela operação – entre elas, a ex-chefe de gabinete da Presidência em São Paulo Rosemary Noronha. Ele se filiou ao PT em 2003 em Gavião Peixoto (SP).

A campanha de Vieira seria financiada por empresas beneficiadas pelos pareceres encomendados pelo esquema, segundo depoimento do servidor que delatou o esquema à PF, o ex-auditor do TCU Cyonil Borges.

“Afirma o declarante que, segundo Paulo, com a convalidação do processo, a empresa Tecondi o auxiliaria em futuras campanhas políticas para deputado federal”, informam os investigadores, em relatório.

As investigações da Porto Seguro revelaram que Vieira teria oferecido R$ 300 mil para que Cyonil produzisse um parecer favorável à ocupação de áreas do Porto de Santos pela Tecondi.

Diálogos sobre as pretensões eleitorais de Vieira foram captados em três telefonemas interceptados pelos investigadores em abril e maio de 2012.

Em uma das conversas, Vieira revelou sua futura candidatura a um homem identificado como José Mendonça. Segundo a PF, os dois “falam sobre política”. Vieira convida o interlocutor para o “encontro do PT em Canoas (RS)” e “declara intenção de se lançar candidato a deputado”.

O ex-diretor conversa sobre outros eventos do PT em e-mails e telefonemas. Vieira também tem ligações com o PR e com o deputado Valdemar Costa Neto (SP).

Patrimônio. Outro telefonema indica que Vieira teria registrado parte de seu patrimônio em nome de terceiros para evitar que o acúmulo de bens prejudicasse sua candidatura. Em maio, Rose revelou ter ouvido essa preocupação do próprio ex-diretor.

“Primeiro, você disse que o apartamento era do Marcelo (irmão de Paulo). Agora, hoje, você veio me dizer que o apartamento está no seu nome, porque você tem mais dois apartamentos, que você está preocupado com a sua candidatura”, disse Rose a Vieira, durante uma discussão.

A PF apura o enriquecimento ilícito dos integrantes do esquema e decidiu rastrear a evolução patrimonial dos investigados. O inquérito aponta que Vieira seria o dono de apartamentos e de carros registrados em nome de parentes e funcionários. Um Land Rover avaliado pela PF em R$ 300 mil tinha como proprietária a diretora da faculdade controlada pela família do ex-diretor da ANA. Um apartamento em Brasília está no nome de seu irmão Marcelo e outro, em Ubatuba (SP), no nome de sua mulher.

“Nem todos (os apartamentos) estão registrados em nome dele, mas foram encontrados elementos que indicam que Paulo seria o responsável por negociação e despesas desses imóveis”, anotaram os investigadores.

E-mails interceptados na operação também revelam que Paulo teria registrado por R$ 80 mil um flat na Alameda Lorena pelo qual pagou R$ 192 mil.

Paulo Vieira e seu irmão Rubens buscavam acumular a influência política da família quando se aliaram a Rose para chegar a cargos de diretoria em agências reguladoras. Em e-mails de janeiro de 2009, Vieira deixa claro o projeto da dupla ao discutir a indicação de Rubens para o Conselho Nacional de Turismo ou para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

“Lembre-se que o turismo pode ser um lugar muito bom para os nossos planos de poder na BA e em SP, no tocante a liberação de recursos, mas a prioridade no momento é a diretoria da ANAC”, escreveu Paulo Vieira.

Bens. Em nota, Vieira informou que todo o seu patrimônio está declarado ao Imposto de Renda. Ele assinala que, como servidor público, apresenta cópia da declaração de bens e rendas à repartição que integra. O texto não menciona os planos eleitorais de Vieira.

Advogado da Tecondi, o criminalista José Luís Oliveira Lima afirmou que a empresa foi incorporada em julho por outra firma e que atos eventualmente praticados antes dessa data não poderiam ser respondidos pela atual gestão.

Advogado de César Floriano, sócio da Tecondi à época da suposta negociação de financiamento da candidatura de Vieira, Alberto Zacharias Toron afirmou que desconhece “absolutamente” o assunto.

Fonte: Bruno Boghossian, de O Estado de S.Paulo

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