Saúde – 26/01/2012 – 15:01
No último domingo de janeiro o mundo vai comemorar o 59º DIA MUNDIAL DO HANSENIANO. Esse dia foi criado pela ONU – Organização das Nações Unidas, por proposta do jornalista e ativista francês Raul Follereau, com a intenção de que um dia ele não seja mais necessário.
O Brasil é o segundo país com o maior número de pessoas atingidas pela Hanseníase no mundo, atrás apenas da Índia e o primeiro nas Américas em número de casos e incidência. Cerca de 65% dos casos de Hanseníase do mundo, concentram-se na Índia e no Brasil e dos 127 países com casos notificados, 17 apresentam mais de 1.000 casos/ano: Angola, Bangladesh, Brasil, China, Congo, Índia, Etiópia, Indonésia, Madagascar, Moçambique, Mianmar, Nepal, Nigéria, Filipinas, Sri Lanka, Sudão e Tanzânia. A doença é endêmica em várias regiões do nosso país.
Apesar dessa incômoda posição no cenário mundial, nosso país saiu de uma prevalência de 19,54/100.000 hab. em 1990 para uma prevalência de 1,56/100.000 hab. em 2010. Em 1990 tínhamos 281.605 pessoas em tratamento e em 2010 esse número caiu para 29.761, segundo dados do Ministério da Saúde. Saímos de uma situação de hiperendemia para uma situação de endemia média, próxima da endemia baixa, que é de menos de 1 caso/100.000 habitantes.
Já com relação à incidência (número de casos novos notificados anualmente), nosso progresso não correu com a mesma intensidade da prevalência (casos em tratamento). Saímos de uma incidência de 25,44/100.000 hab. em 2000 para uma incidência de 18,22/100.000 hab., de uma situação de incidência muito alta para uma situação de incidência alta, sem falar que ainda detectamos 2.461 casos de Hanseníase em menores de 15 anos, um indicador de alerta de que a endemia possa estar oculta, nos municípios e Estados brasileiros onde esses casos são detectados.
A região Norte do país continua sendo a mais endêmica, com um coeficiente de detecção de 39,98/100.000 hab., sendo o Pará o Estado mais endêmico. A região Centro-Oeste vem em seguida, com uma incidência de 33,92/100.000 hab., sendo o Estado de MT o mais endêmico. A terceira região mais endêmica é a Nordeste, com 23,45/100.000 hab., destacando-se o Estado do MA com a maior incidência, seguida das regiões Sudeste, com 6,79/100.000 hab. e da região Sul, com 4,68/100.000 hab. de incidência.
Considerando a incidência como indicador, os cinco Estados mais endêmicos da nação, em ordem decrescente são: Mato Grosso, Tocantins, Rondônia, Maranhão e Pará.
Mato Grosso do Sul apresentou 695 casos notificados em 2011, ocupando uma incômoda sétima posição neste ranking, com uma incidência de 28,38/100.000 hab., incluindo-se dentre os 17 Estados com incidência superior à incidência do país que foi de 15,88/100.000 habitantes.
Três Lagoas, no período histórico de 1999 até 2011, saiu de uma prevalência de 84/100.000 hab. (situação de hiperendemia), para uma prevalência de 17/100.000 hab. (situação de endemia média, próxima da baixa, que é menor de 10/100.000 hab.). Já com relação à incidência, saímos de uma incidência de 83/100.000 hab. em 1999 (hiperendemia), para uma incidência de 25/100.000 hab. em 2011 e, neste indicador, ainda estamos incluídos numa situação de endemia muito alta (de 20 a 39/100.000 hab.).
Muitos esforços foram feitos até aqui pelo PMCH – Programa Municipal de Controle de Hanseníase, em parceria com as Unidades de Saúde do município, em particular as equipes de Estratégia Saúde da Família e de Agentes Comunitários de Saúde. Campanhas de massificação das informações em Hanseníase acontecem ininterruptamente desde 1998 e o agravo está sob controle em nosso município. Sob controle, mas em alerta permanente, pois temos uma população flutuante de trabalhadores/as oriunda principalmente dos Estados da região Norte e Nordeste do país, muitos deles dos Estados mais endêmicos da Federação, como é o caso dos Estados do Maranhão, Pará e Pernambuco e todo cuidado deve ser tomado para que os indicadores que hoje são bons, não se deteriorem e, principalmente, que as pessoas não sejam acometidas por este agravo, que hoje em dia é de fácil diagnóstico, tem tratamento e cura completa.
Por fim, ressaltar que este dia especial deve ser dedicado para a reflexão sobre as pessoas que foram e ainda são atingidas pela Hanseníase, doença que ainda é conhecida nos meios populares como lepra, muito embora este termo não descreva mais o que a ciência reconhece como Hanseníase.
Lembrar que até pouco tempo, a única sorte desses homens e mulheres era serem lançados ao isolamento da sociedade nos vales e montanhas, que na década de 20 do século passado até a década de 70 em nosso país, foram submetidos à internação compulsória e ao isolamento em sanatórios (antigos leprosários) e que apesar da esperança da sulfona, medicamento introduzido no mundo a partir dos anos 40, somente em 1992, com o advento da Poliquimioterapia – PQT puderam contar com um tratamento eficaz, que possibilitou e possibilita até nossos dias a cura completa desta enfermidade milenar.
Portanto, nesta data especial, nosso olhar humano deva estar voltado para esses homens e mulheres não com piedade e pena, mas com o olhar solidário de quem reconhece que estes/as passaram pela dor inerente desta doença, mas, principalmente, pela dor incomensurável de quem se sente abandonado, discriminado, estigmatizado pela sociedade e, em muitos casos, pela própria família, atingidos concomitantemente por duas doenças endêmicas no mundo, a “ignorância” e a “pobreza”.
Estamos combatendo a pobreza com a inclusão cada vez maior de brasileiros/as aos benefícios produzidos pela nossa sociedade e a ignorância só será vencida com mais investimentos em educação, com escolas de boa qualidade e com a socialização da informação, tal qual a de que “mancha dormente na pele pode ser hanseníase”, simples informação, mas que todos nós que a detemos temos os dever de repassá-la, para que a intenção do jornalista Raoul Follereau seja em breve concretizada, ou seja, que o Dia Mundial do Hanseniano não precise mais ser lembrado entre nós.
Fonte: Antônio Carlos Modesto