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Três Lagoas
sexta-feira, 22 de novembro, 2024

Em área “dominada” por homens, mulher encontrou realização no sonho de ser motorista de caminhão comboio

No Dia do Motorista, comboista é exemplo de amor pela profissão e dedicação na conquista de objetivos pessoais e profissionais.

No município de Água Clara (MS), distante 134 km de Três Lagoas, Sônia Ferreira Vida, de 47 anos, roda em média 300 quilômetros por dia em um caminhão comboio que leva combustível para abastecer os maquinários das equipes que atuam em campo nas operações florestais. Entre os comboistas da MS Florestal, empresa genuinamente sul-mato-grossense na área de florestas plantadas, Sônia é a única mulher. Para ela, poder dirigir o caminhão representa, primeiramente, a realização de um sonho. “Não foi fácil chegar aqui, mas tive muita determinação. Me coloquei na frente e acreditei que era capaz. Faço todos os dias como se fosse o primeiro dia de trabalho”, comenta.

Sônia é nascida e criada de Água Clara. Formou-se em administração, mas como filha caçula de uma família de caminhoneiros, o desejo maior era poder estar atrás do volante. Assim, com a chegada de empresas de grande porte em Água Clara, começou a correr atrás do seu sonho. No final de 2022, foi atrás do primeiro requisito para conseguir concretizar seu objetivo maior: se inscreveu no curso de Movimentação de Cargas Perigosas (MOPP).

Mulheres motoristas de caminhões ainda são a minoria, mas estão presentes. Dados do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (Detran-MS) apontam que existem apenas 1.573 mulheres com a CNH de categoria D, que é um dos pré-requisitos para conduzir um veículo como um caminhão comboio. Além disso, o programa do Governo do Estado “Voucher Transportador”, que oferece a alteração da categoria de forma gratuita, conta com 1 mil vagas disponíveis, destas ocupadas por 132 mulheres conforme a última lista de convocação deste ano.

Em sua jornada, o que Sônia mais encontrou foi o desdém, principalmente de homens. “Eu ouvia muito que nenhuma empresa iria querer contratar uma mulher. Ou que eu não duraria nem um mês. Depois que concluí o curso, enviei currículos para várias empresas, até que fui chamada para essa vaga. Quando o Recursos Humanos me perguntou se eu estava preparada para o desafio, eu disse com muita convicção que sim”, declara.

O trabalho de Sônia começa cedo, e a maioria dos trajetos são em estradas de terra. Até chegar na operação, são percorridos muitos quilômetros em meio a plantações de eucalipto. A única comunicação é o rádio comunicador. Com habilidade, Sonia manobra por qualquer terreno e manuseia a mangueira para abastecer todos os maquinários, sem precisar de ajuda. “O trabalho em si não é difícil, o trajeto é o mais demorado. E aqui não tem essa de maneirar o serviço para mim só porque eu sou mulher não. Sou tratada com o mesmo respeito de todos”, reforça.

O caminhão não é o único veículo de grande porte com o qual Sônia tem experiência. Ela já tinha trabalhado como motorista de ônibus, em uma prestadora de serviços também em Água Clara. “Sou muito grata pela época do ônibus, mas eu gosto mesmo é do caminhão. No meu dia, sou eu, meu caminhão e Deus. É muito bom ter esse momento pra pensar, pra colocar música se eu quiser, e poder dirigir sem carregar passageiros. É meu momento”, expressa.

Quando encerra o expediente, Sônia assume o segundo turno como mãe. Com ela vive o caçula de 9 anos de idade, chamado Júnior. “Durante a pandemia, meu filho foi diagnosticado com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Mas é o comboio que me ajuda a proporcionar uma vida melhor para o meu filho. Todos os dias quando chego do trabalho, ele já está me esperando, todo feliz em ver o caminhão”, conta.

O amor que Sônia sente pelo comboio é evidente também para os filhos. “O Júnior teve que fazer um desenho de Dia das Mães na escola. Então ele desenhou um caminhão. Quando a professora perguntou onde eu estava no desenho, ele explicou: ‘A minha mãe está aqui dentro do caminhão’. Eu sinto que todos eles sentem muito orgulho de mim”, declara.

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