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Jovens insubordinados no trabalho são reflexo de educação permissiva

Educação – 17/01/2012 – 14:01

Desrespeito aos horários, negligência com prazos, desacato à hierarquia. Em princípio, pode se tratar de um resumo dos problemas enfrentados por boa parte dos professores. Nada disso… Imagine esses alunos, crescidos e formados, no mercado de trabalho. É exatamente dessa maneira que agirão: com indisciplina e agressividade. Um dos principais dilemas enfrentados atualmente pelo universo corporativo é a presença maciça de jovens com dificuldade em acatar ordens. Não se trata de falta de comprometimento com o trabalho, mas, sim, de uma imensa oposição à hierarquia, gerando conflitos com a chefia e os colegas.

A raiz da questão é a mesma dos problemas enfrentados pelas escolas: uma educação permissiva demais em casa. Para a especialista em comportamento humano Branca Barão, uma parcela significativa de pais é mais liberal com os filhos em relação ao tratamento que receberam dos próprios pais. “É claro que isso influencia a relação entre líder e colaborador. E a forma como os pais se relacionam com os seus chefes também”, diz.

Para Branca, algumas peculiaridades em família são determinantes para começar a traçar o perfil profissional de uma criança. “Quem cresce em um ambiente onde tem a chance de exercer sua tirania desde cedo, provavelmente, fará isso no ambiente de trabalho, também. Quem tem a liberdade de gritar com os pais, possivelmente, repetirá o tom de voz no ambiente corporativo e não terá noção de limites. Quem dá sempre a última palavra em relação ao passeio que a família fará no fim de semana, terá, obviamente, mais dificuldade de aceitar ordens.”

É óbvio que os exemplos são generalistas, para chamar a atenção para a gravidade da situação. Mas nem toda criança mimada deve se tornar um adulto impertinente no campo profissional, pois há outros acontecimentos futuros determinantes. Porém, a permissividade, geralmente, causa estragos para toda a vida.

De acordo com Branca, é preciso ensinar os filhos a ouvir um “não” e, principalmente, aceitá-lo. “Tivemos uma onda na educação em que o ‘não’ foi praticamente proibido, pois era tido como nocivo. Eu acredito que é o momento de resgatarmos essa palavra tão importante, pois descobrimos que a falta dela pode ser tão prejudicial quanto o excesso. Buscar o equilíbrio é essencial”. É importante evitar que as crianças acreditem que têm poder de decisão maior do que eles realmente devem ter em cada faixa etária.

Para a psicanalista Blenda de Oliveira, os adolescentes precisam confrontar para encontrar as suas respostas. Afinal, a rebeldia faz parte do repertório típico da idade. “Mas deixar o jovem confrontar de maneira desrespeitosa cria uma ilusão de poder e de falta de limites irreais”, explica a especialista. Na opinião de Blenda, na infância dos filhos, os pais devem permitir o questionamento e ensiná-los as diferenças da experiência de vida e dos papéis de cada um.

“É fundamental mostrar que respeitar a autoridade é um aspecto de força, de capacidade e de competência para aprender e crescer. Observar que alguém nomeado como chefe não tem as competências necessárias não dá o direito a qualquer pessoa de faltar com o respeito”, afirma Blenda. A sugestão de Daniella Correa, consultora de Recursos Humanos da Catho Online, é negociar limites com o jovem e explicar os objetivos desses limites. “Eles precisam sentir que participaram da decisão, que foi um acordo e não uma decisão autoritária”, diz.

Perdas e danos

Para Blenda de Oliveira, outro ponto a considerar para compreender como surge a insubordinação dos jovens nas empresas é a nossa própria sociedade, pouco cumpridora das leis. “Quando vivemos em um ambiente em que há ‘um jeitinho’ para tudo, as figuras de autoridade perdem sua validade com rapidez, já que não se cumpre a justiça”, pondera.

Um terceiro fator é que nas classes sociais em que os jovens têm um acesso enorme às diferentes e boas formações, muitos passam a se sentir tão ou mais inteligentes e competentes que os seus chefes. Ignoram, assim, a experiência e a trajetória de vida de outras pessoas por ostentarem títulos ou um curso no exterior, por exemplo. Segundo Branca Barão, quanto maior a formação intelectual e mais confortável for a situação financeira de alguém, maior a chance dessa pessoa dizer: “Eu não preciso disso!” no primeiro “não” que ouvir no trabalho. “A humildade é uma postura essencial para ter um bom relacionamento em uma empresa.”

Mas quais as consequências desse tipo de comportamento -além de uma demissão? A psicanalista Blenda de Oliveira avisa que não respeitar as autoridades e os limites sempre traz prejuízos na vida futura, caso tal atitude vire um padrão de comportamento. “Mas é claro que não é todo confronto que pode gerar danos, não podemos generalizar”, diz.

Uma criança “mimada” ao extremo dentro de casa pode se tornar uma pessoa bastante difícil no ambiente de trabalho: que não pode ser contrariada, não consegue aceitar que uma ideia sua não seja idolatrada, não sabe ajudar as outras pessoas. A empresa contrata pelo currículo, mas não aguenta conviver com aquela pessoa, que acaba demitida por suas características comportamentais.

Outro risco, segundo Blenda: confundir autoridade com autoritarismo e passar a agir de forma mais autoritária que aqueles que critica. “O maior problema de não saber lidar com a hierarquia é um ego fraco que não aguenta a frustração de ser criticado, de errar e de precisar do outro para crescer. O resultado é um enorme sentimento de solidão.”

Para Daniella Correa, alguns casos exigem menos crítica e mais compreensão. “Um jovem, principalmente que ainda não vivenciou a profissão escolhida, não sabe se essa atividade irá satisfazê-lo e pode ter dificuldades de adaptação às rotinas. Ele precisa conhecer e adaptar-se à cultura, normas e procedimentos da empresa e entender como funciona um ambiente corporativo”, diz.

Uma boa ideia é pesquisar sobre as regras e os valores da empresa antes mesmo de se inscrever no processo seletivo. Assim evitará cometer erros que poderão prejudicá-lo. Além disso, é fundamental que a empresa tenha responsáveis preparados para receber, orientar, desenvolver as habilidades e avaliar esses profissionais. “O gestor deve entender que esses novos colaboradores entraram na empresa para aprender. É o primeiro contato que possuem com o ambiente corporativo”, explica Daniella.

Fonte: UOL

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