Além da poluição e afogamentos, mais um problema se apresenta nos afluentes dos rios Tietê e Paraná: as raias ou arraias. Elas chegaram ao interior de São Paulo em razão das barragens construídas no rio Paraná, principalmente na obra da Usina de Itaipu, o que influenciou na transposição da barreira natural de Sete Quedas.
Dessa maneira, os peixes conseguiram subir mais de 140 quilômetros no rio Tietê, sendo uma ameaça pelo fato de serem animais peçonhentos, o que pode causar acidentes.
Sem tratamento específico
Apesar da ferroada das raias jovens causar apenas dor local, o ataque das adultas pode necrosar partes do corpo humano. Com venenos diferenciados de acordo com a idade e sexo dos animais, ainda não há antídotos ou tratamento específico para ataques de1 raias de água doce, uma situação preocupante.
“A primeira vez que soube da presença de arraias no Paraná foi há 20 anos, no pontal do Paranapanema [afluente do rio Paraná], próximo ao município de Teodoro Sampaio, em São Paulo. Nesse tempo, elas subiram em uma velocidade inacreditável, e agora já há dados da presença delas no baixo do rio Tietê, em cidades como Três Lagoas e Itapura e, mais recentemente, Araçatuba e Buritama”, disse o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu, Vidal Haddad Júnior.
Pisou, dançou
Embora sejam consideradas pouco agressivas, os acidentes com as raias surgem quando são pisadas. Nesse momento, para se defenderem, elas usam suas caudas como se fosse um chicote. Elas têm também um ferrão repleto de veneno abaixo do rabo e costumam atingir principalmente pés e pernas das vítimas.
Em sua pesquisa de doutorado na Unesp, a enfermeira Isleide Moreira documentou a invasão desses animais no interior do estado de São Paulo, chegando em áreas conhecidas como “prainhas”, muito procuradas pelas populações locais como opção de lazer e turismo.
“É importante destacar que a ferroada é um mecanismo de defesa desses animais. Elas vivem em geral enterradas em ambiente arenoso e não muito fundo, e é em situações assim que o acidente pode ocorrer, ou no momento de manuseio após a pesca”, afirma a enfermeira.
Como é um tipo de acidente que não costuma ter registro, faltam dados oficiais no Brasil sobre lesões causadas por raias.
Comuns na Amazônia e Pantanal, elas estão se espalhando pelo interior de São Paulo e Paraná também pelo fato de não terem predadores naturais. São peixes vivíparos, ou seja, dão à luz a filhotes já formados.
O que fazer em caso de acidente
Caso você sofra um ataque, a primeira dica é sair da água e não tentar capturar o animal, pois pode enfrentar mais problemas. Coloque água quente sob o ferimento, pois a temperatura ajuda a quebrar a proteína do veneno, aliviando a dor.
Procure assistência médica o mais rápido possível. Não faça torniquetes ou compressas de gelo, pois pode piorar ainda mais a área atingida. Geralmente, os profissionais de saúde receitam antibióticos para combater a grande quantidade de bactérias existentes no veneno, que podem se proliferar no local da ferida.
“O número de acidentes com ferroadas de raias na bacia amazônica é grande e continua crescendo. Ainda não existe antídoto para o veneno de raia de água doce e o tratamento é feito com medicamentos para controlar a dor e a necrose dos tecidos. Por conta disso, é importante estudar a composição das toxinas produzidas pelas raias e descobrir como pode variar entre peixes jovens e adultos, ou entre machos e fêmeas”, explica a pesquisadora Mônica Lopes Ferreira, autora de um estudo conduzido em conjunto entre FAPESP e Instituto Butantan.