A defasagem entre o preço internacional do barril e o praticado nas refinarias da Petrobras chega a 51%.
Após 14 dias da invasão da Rússia à Ucrânia, os preços das commodities continuam oscilando.
Entre as altas que impactam a vida de quem mora em todo o País, incluindo os sul-mato-grossenses, está a do barril do petróleo tipo Brent. Nas máximas, o produto já chegou a ultrapassar os US$ 130.
Considerando os preços praticados em Mato Grosso do Sul atualmente, a gasolina pode chegar a custar R$ 8,02, e o litro do óleo diesel, R$ 7,81.
O aumento da cotação internacional do barril pressiona os preços dos combustíveis fósseis no Brasil em decorrência da política de preços adotada pela Petrobras: a paridade de importação (PPI).
Que serve para a equiparação dos preços da estatal ao mercado internacional. A defasagem entre os valores é de 51% para o diesel e 35% para a gasolina.
A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) aponta que caso a lógica da paridade fosse aplicada o litro do diesel aumentaria R$ 1,66 e a gasolina R$ 0,83.
Conforme os dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o litro da gasolina é comercializado por em média R$ 6,43, indo de R$ 5,99 a R$ 7,19 em Mato Grosso do Sul. Acrescentando os R$ 0,83, os valores iriam de R$ 6,82 a R$ 8,02.
O óleo diesel é comercializado entre R$ 5,27 e R$ 6,15 no Estado. Com a elevação de R$ 1,66, os preços nas bombas ficariam entre R$ 6,93 e R$ 7,81.
“Com a menor oferta, os preços do barril sobem naturalmente, e esse aumento de preços pode ser repassado para a cadeia produtiva dos combustíveis, impactando para cima os preços da gasolina e do diesel”, explica o doutor em economia Michel Constantino.
“Os aumentos que ocorreram até o momento ainda não foram repassados. No relatório de análise da Petrobras, o choque ainda não chegou nos seus estoques, mas vai chegar, e algumas soluções estão sendo discutidas no Congresso, mas também tem outras soluções no mundo, pois os preços são globais”, avalia.
OSCILAÇÕES
Após encostar nos US$ 140 durante o início da semana e fechar a US$ 127,98 na terça-feira, o barril fechou em queda ontem, a US$ 111,14. Mesmo assim, no acumulado registra alta de 16% no comparativo com o mês passado – quando o produto era negociado a US$ 95,73.
Já no comparativo com março de 2021, o aumento é de 67,91%, já que no período o barril tipo Brent valia US$ 66,19.
A queda foi sentida mesmo depois dos Estados Unidos anunciarem o embargo ao petróleo russo. No entanto, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) garantiu oferta mundial do produto, mesmo se a Rússia deixar o mercado.
“Caso ocorra essa alta da oferta, o impacto da alta nos combustíveis será importante, mas não explosiva, caso contrário, poderemos atingir o nível de catástrofe previsto por Putin”, cita o mestre em economia Eugênio Pavão, referindo-se à declaração do líder russo de que, com o fim da oferta do país, o barril iria a US$ 300.
Além da maior oferta, a Rússia anunciou um novo cessar-fogo na Ucrânia para deixar civis saírem do país, percebido como um aceno para a solução da guerra entre as nações.
ESTRATÉGIA NO BRASIL
O governo federal brasileiro busca maneiras de “segurar” os preços no País. Entre as propostas apresentadas pelo presidente Jair Bolsonaro está o congelamento dos valores nas refinarias da Petrobras.
Para os economistas, a estratégia não é a melhor para lidar com o problema.
“A história nós ensinou que no longo prazo essa situação não é a mais indicada. Talvez possa resolver um problema no curtíssimo prazo. Penso que ao adotar esta situação estaremos adiando o problema”, avalia o economista Marcio Coutinho.
Constantino ressalta que governos passados já mostraram que congelar preços à canetada não funciona, mas que a estratégia de usar dividendos distribuídos pela Petrobras para o governo federal para amortecer esses aumentos e entrando de volta no caixa da empresa como se fosse um subsídio, poderia funcionar.
“Essa seria uma alternativa que poderia ajudar nesse momento de choque internacional, mas acredito ainda mais em uma maior oferta mundial de petróleo para garantir as necessidades de cada país e controlar os preços via mercado”.
O governo propõe uma redução dos impostos sobre combustíveis antes de optar pelo subsídio temporário. O subsídio pode custar R$ 12 bilhões por mês, e a estratégia é esperar o efeito da queda dos impostos na bomba.
Segundo reportagem do Estadão, o governo também discutiu a possibilidade de a estatal escalonar os reajustes, e não aumentar toda a defasagem de preços de uma só vez.
Bolsonaro ainda não decidiu pela adoção do subsídio, mas fontes do Palácio do Planalto informam que proposta não saiu da mesa.
O economista ainda conclui dizendo que os consumidores poderiam optar por outros combustíveis em caso de alta expressiva.
“O que podemos dizer é que, se a gasolina subir muito, procuraremos alternativas, como o etanol e o próprio gás natural”, conclui Constantino.
US$ 300 o Barril
Caso o barril do petróleo chegue a US$ 300, a gasolina poderá custar R$ 15 no Brasil.