Dados divulgados pelo governo do Estado mostram que os prejuízos causados pela estiagem na agricultura já apontam para a redução da colheita de soja 2021/2022.
A projeção inicial era que seriam colhidas 12,7 milhões de toneladas neste ciclo, mas o último levantamento apontou 11,4 milhões de toneladas, redução de 1,3 milhão de toneladas ou 10,23%. A redução estimada deve gerar prejuízos calculados acima de R$ 3,5 bilhões.
A projeção realizada pela reportagem do Correio do Estado é norteada nos dados disponibilizados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), com base no relatório do Sistema de Informação do Agronegócio (Siga-MS) e consultoria técnica de agentes do setor.
O preço médio da saca de soja com 60 kg ficou em R$ 163 em 2021, considerando que 1,4 milhão de toneladas são 21,666 milhões de sacas de soja, o prejuízo estimado para a safra de soja 2021/2022 é de R$ 3,531bilhões.
SEGURO RURAL
Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), foi emitido em MS, para o ciclo vigente, em torno de R$ 333 milhões de prêmio, o que representa apenas 30% das lavouras asseguradas em Mato Grosso do Sul.
De acordo com o titular da Semagro, Jaime Verruck, atualmente, cerca de 1.200 apólices já estão sendo executadas no Banco do Brasil e em outras seguradoras.
“Todos os produtores que não são cobertos pelo seguro agrícola podem solicitar a prorrogação das suas parcelas”, disse sobre a possibilidade viabilizada pelo estado de emergência, decretado no começo deste ano.
Ainda com baixa cobertura, o corretor de seguros Luciano Lemos comenta que neste ano houve aumento de 40% na contratação de seguros agrícolas em Mato Grosso do Sul.
“A cobertura já chegou a ser de 10% no Estado. O produtor olha muitas vezes para o prêmio e considera um investimento caro”, relatou.
Com essa cobertura tímida, somada ao alto risco de perda e à situação crítica dos campos plantados, se os dados divulgados pela Semagro se concretizarem, a estimativa é de que apenas R$ 1 bilhão (dos R$ 3,5 bilhões) estejam cobertos por apólices de seguros.
Lemos comenta que ainda há muita desinformação sobre o produto. “[O produtor rural esbarra na] Falta de conhecimento sobre o produto e um maior incentivo por parte do governo e das instituições financeiras na contratação e o exato conhecimento sobre risco versus benefício que o seguro pode trazer”.
ESTIMATIVAS
A nova estimativa negativa da safra foi divulgada na quinta-feira. “Dos 3,7 milhões [de hectares plantados], temos 31% da área ou mais de 1 milhão de hectares em condições ruins, 36% em condição regular e 33% em condição boa. Então, hoje, 67% da produção da soja de MS está regular e ruim, o que nos preocupa”, detalhou Verruck.
O secretário diz ainda que o monitoramento segue sendo feito e que esses ainda não são números finais. “O cenário não é positivo, e a tendência é de que esses [hectares em condição] ruim e regular ainda possam culminar em uma redução adicional de safra”, complementou.
A estimativa inicial para a safra 2021/2022 era de 12,7 milhões de toneladas colhidas, menor apenas do que a colheita recorde de 2020/2021, que chegou a 13,3 milhões de toneladas.
As condições climáticas desfavoráveis reduziram esse número para a faixa dos 11,4 milhões de toneladas. A quantidade de 56 sacas por hectare, estimada no começo da safra, foi reduzida mais uma vez, caindo de 53 sacas para 50 sacas por hectare.
PANORAMA
O último levantamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho de MS (Aprosoja-MS) sobre a safra de verão apontava que a principal região de quebra é o centro-sul do Estado. Na região sudeste, que engloba municípios como Naviraí, Itaquiraí, Bataguassu, Mundo Novo e Batayporã, entre outros, 92% das lavouras apresentam condições ruins e 8% estão regulares.
O mesmo é observado na região sul-fronteira, em municípios como Aral Moreira, Paranhos e Amambai, onde 40% estão em situação regular e 60%, ruins. Em nenhuma das duas áreas há plantações em boas condições.
Outras duas localidades que preocupam são as regiões sul e sudoeste. Na primeira, apenas 18% apresentam boas condições, enquanto 33% são consideradas ruins e 49% regulares. A segunda tem 14% do plantio bom, contra 58% em estado regular e 28%, ruim.
O presidente da Aprosoja-MS, André Dobashi, diz que a situação climática em tempos de La Ninã impõe muita pressão e obstáculos ao produtor. “Mato Grosso do Sul apresenta uma diversidade muito grande nas questões climáticas, principalmente, em ano de La Niña, como foi 2021 [e, agora, 2022]. Mas os produtores estão mais atentos, temos mantido uma conversa direta, levando orientações. Tivemos recorde de contratações de seguro rural e sempre chamamos atenção quanto às cláusulas contratuais, que precisam ser claras quanto à sua cobertura”.
CLIMA
Em época na qual os volumes de chuvas costumam ser altos em MS e trazem o desenvolvimento esperado pelos produtores, as notícias dos departamentos de controle climáticos foram ruins.
Conforme o boletim do Centro de Monitoramento de Tempo e Clima (Cemtec), até o momento, janeiro segue a mesma tendência, com chuvas bem esparsas por todo o interior e poucos dias de grande volume. O índice esperado para os próximos dias deve ficar em torno de 35 mm a 45 mm na região central do Estado e em algumas partes das divisas com Goiás e Mato Grosso.
As regiões sul e sul-fronteira devem receber um volume um pouco menor, entre 25 mm e 35 mm, de precipitações. Boa parte do Estado pode não receber quantidades de chuvas mínimas. O meteorologista Natálio Abrahão informa que o volume de precipitações está em 105 mm até o momento. A média histórica para o Estado é de 212 mm para janeiro.
Em dezembro, o panorama foi praticamente o mesmo. Somando-se todo o volume de MS, caíram 864 mm nas localidades medidas pelo especialista. Isso é 50,16% do esperado para o mês, que apresenta volume total histórico de 1.641 mm.
Segundo o presidente da Aprosoja-MS, a falta de chuva nestes dois meses é responsável por prejudicar a produtividade, pois a planta não consegue colocar o grão e, se consegue, o grão pode não atingir a maturação ideal.
Informações do site Correio do Estado