Acolhidos no antigo abrigo Poço de Jacó, alguns dos filhos marcaram presença no encontro onde resgataram as boas lembranças em gratidão à Maria Pequena
23/07/2019 12h17
Por: Rodrigo de Freitas
TRÊS LAGOAS (MS) – Aconteceu neste sábado (20) o 1º Encontro Oficial dos Filhos de Maria Pequena, a Maria Guilhermina Esteves, fundadora do antigo abrigo Poço de Jacó. A iniciativa que reuniu alguns dos acolhidos que não se viam há 40 anos, partiu da percepção de Cidolina Silva, esposa de um dos filhos de Maria Pequena, de que os irmãos estavam espalhados pelo país e pelo mundo.
Tudo começou com uma das irmãs que vive na Holanda, Katia Revair. Prestes a visitar Três Lagoas (MS), Katia fez um post nas redes sociais procurando seus amigos e irmãos. Foi dessa forma que ela conseguiu entrar em contato com Eduardo Alves de Souza,o Duzão, marido de Cidolina.
Katia chegou a vir para Três Lagoas e reencontrou o irmão, mas devido aos problemas de saúde do marido, teve que retornar para a Holanda. Mas ficou o desejo de reunir todos os outros irmãos e de retornar ao Brasil no final do ano.
Envolvida com a história de vida dos filhos de Maria Guilhermina, Cidolina assumiu a missão de reunir os irmãos de seu marido entrando em contato com cada um. “Abracei essa causa, e comecei então a entrar em contato com os irmãos, com todos que pudesse e um foi passando o telefone do outro”, relata.
Do Acre a San Diego, Estados Unidos
Após muitos telefonemas, mensagens em redes sociais e três meses de procuras, o encontro reuniu alguns dos irmãos em Três Lagoas. Eduardo Alves de Souza, conhecido como Duzão, um músico de expressividade no município há mais de 40 anos, conta que a paixão pela música surgiu em sua vida ainda na época em que vivia no abrigo.
Ele conta que tocava violão no abrigo e quando o SESI chegou à cidade, uma expectativa em torno de um novo conjunto musical chamou a atenção dos rapazes. “Eu estava lá no Poço de Jacó e eles (os amigos) chegaram atrás de mim; foi uma surpresa danada porque eu tinha vontade de tocar, só que não tinha oportunidade”, diz Duzão sobre a carreira que teve início no conjunto do SESI.
Uma das primeiras acolhidas de Maria Pequena, Cacilda Gualberto conta que foi uma surpresa saber da organização do encontro e fala da importância da reunião: “Nós temos irmãos e irmãs que a gente nem conhece mais. Eram todos pequenos e depois cada um vai crescendo vai tomando a idade, cada um pega seu destino né?!” conta Cacilda revelando se sentir em casa.
Ela conta que o abrigo foi uma escola e que contribuiu para o progresso de crianças, adultos e idosos necessitados: “Era uma vida em comum ali dentro aquele abrigo”.
O encontro oficial dos irmãos, alusivo aos 104 anos de Três Lagoas, foi realizado na noite do último sábado (20) em uma casa de festas, contando com um jantar especial e muita música com Duzão no baixo.
Maria Guilhermina Esteves: simples, mulher, negra e pioneira
Como a primeira Assistente Social de Três Lagoas, Maria Guilhermina Esteves nasceu em três de março de 1901 e marcou a história da cidade com o seu pioneirismo na profissão e como a mãe acolhedora de aproximadamente 200 pessoas, entre idosos e crianças, muitas as quais vieram ao mundo por suas mãos.
Tudo começou com o seu desejo de acolher já ao chegar à cidade. Ela acolheu os primeiros filhos em sua casa, onde fornecia alimentação, banho, e moradia que pouco a pouco foi ficando pequena para tantos acolhidos e tanto amor pela Assistência Social.
Em 1973, após um temporal que destruiu sua casa, o abrigo, que começou em uma pequena residência mudou-se para um prédio maior onde abrigou centenas de crianças.
Desde então, o abrigo passou por reformas foi duplicado e hoje foi transformado na Casa Lar: a primeira Unidade de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes.
Maria Guilhermina Esteves deixou sua marca na história de Três Lagoas e da Assistência Social. Com o seu pioneirismo, Maria Pequena proporcionou a 200 pessoas, uma vida digna e a sua história merece ser celebrada.
Da redação
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